"Ninguém se banha duas vezes nas mesmas águas de um rio.
Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio porque as águas mudam,
mas o que é mais terrível é que nós não somos menos fluidos do que o rio.
De cada vez que lemos um livro, o livro não é o mesmo,
a conotação das palavras é outra.
Além disso, os livros estão carregados de passado."
(Heráclito citado por Livros & Afins)
O ato de retornar a um livro que já havíamos lido anteriormente, expressa nossos sentimentos a respeito daquela leitura. Sabemos realmente quando um livro tornou-se nosso preferido quando por vezes, mesmo passado algum tempo após a leitura, nós divagamos por sua história e, consequentemente, desejamos relê-lo, seja para matar a saudade ou relembrar algumas passagens já não nítidas em nossas mentes.
Reler um livro, no entanto, vai além dos motivos citados acima, pois uma vez que retomamos uma leitura já lida antes, nós não somos mais os mesmos, como seres em perpétua transformação, nossas concepções podem ter sido modificados pelas novas leituras realizadas e vivências cotidianas.
Cada (re)leitura consiste na realidade na leitura daquele livro como se fosse a primeira vez. E se ao relê-lo você descobrir que ele ainda te emociona, causa frenesi e enternece, com certeza, esse livro é especial. Em geral, ainda queremos compartilhar aquela leitura magnífica com amigos e familiares.
Já perdi as contas de quantas vezes, eu reli a Saga de Harry Potter. A primeira vez que o li foi aos catorze anos, a pedido da escola, na época, eu estava na oitava série. Comecei a lê-lo meio desconfiada, pois durante algum tempo, eu tive ciúmes da saga, pois meu melhor amigo não a largava, nem para conversar comigo, mas conforme, eu lia entendi perfeitamente suas motivações e também fui arrebatada. Em diferentes momentos da minha vida, eu retornei e li um livro ou outro e ainda assim, foi como se fosse a primeira vez. Outro autor que sempre me arrebata é o poeta Pablo Neruda. Volte e meia, sou tomada pelo desejo de reler minhas poesias preferidas, de enamorar-me e beber novamente suas palavras. Atualmente, reli toda a série de Vampire Academy e mais uma vez, a autora Richelle Mead conseguiu prender minha atenção, fazendo-me transbordar de emoções. Porém, o livro que mais reli foi Fernão, Capelo Gaivota. Li a primeira vez aos nove anos de idade e depois o reli aos dezesseis anos, a visão que eu tinha da história modificou-se completamente. Passado nove anos, acredito que já estou pronta para relê-lo, agora com os olhos de adulta e com mais bagagem literária.
A autora Laura Elias é também adepta de releituras, inclusive, cita que seus livros favoritos são O Retrato de Dorian Gray (Oscar Wilde) e O Caso dos Dez Negrinhos (Agatha Christie). Sua primeira leitura de O Retrato de Dorian Gray ocorreu entre treze/catorze anos, diz que adorou a leitura, mas o considerou como uma história de terror, mais tarde, ao reler, teve outra visão do livro: "Hoje, quando releio, vejo muito mais o Oscar Wilde lutando ferozmente com uma sociedade frívola e sem caráter do que uma história de terror. É um texto magnífico, irônico, crítico e carregado de cinismo e com um estilo primoroso. Fantástico!" No entanto, ressalta que também utiliza as releituras como mecanismo de estudo, citando como fonte o livro O Caso dos Dez Negrinhos: "Mais do que reler este texto, eu o estudo, tentando aprender a construir uma trama como ela faria; simples e que prende o leitor de tal maneira que não se consegue largar o livro", esclarece Laura Elias.
A leitora Raffaela Fustagno também aprecia releituras, porém, por motivos diferentes. Quando uma série de livros demora muito tempo para ser lançada e ela não consegue recordar de muitos detalhes, apela para a releitura. Também opta por reler quando uma obra literária é adaptada para os cinemas. Ressalta, porém, que sempre relê Jane AusteneStephen King, seus autores preferidos. Karine Coelho aponta que também relê seus livros favoritos quando sente saudades, principalmente, da Saga de Harry Potter, que acompanhou durante toda adolescência. Outro livro que sempre recorre é Mulherzinhas (Louisa May Alcott): "Releio, por ser uma das histórias mais singelas, delicadas e deliciosas que eu já li na minha vida. Ele me fez companhia no início da minha adolescência, me ensinou diversas lições que levo comigo até hoje...".
Seja o motivo qual for para realizar a releitura de uma obra, a experiência sempre será única e nova, uma oportunidade de avaliar o quanto nos modificamos ao longo do tempo, assim como as águas do rio.
Vocês também releem livros? Em que circunstâncias?
Conte sua opinião!