Não sei por quê", disse ele, como se aproximasse a pedra da luz e fizesse girar, procurando outro ângulo. "Eu estava danado com Dick. O garoto durão. Mas não foi por causa dele. Nem do medo de ser reconhecido. Eu estava disposto a correr o risco. Nem por causa de nada que algum dos Clutter tivesse feito. Não me fizeram mal nenhum. Ao contrário de outras pessoas. Ao contrário de tanta gente que me fez mal a vida inteira. Mas talvez os Clutter estivessem destinados a pagar por tudo."
Truman Capote (autor de "Bonequinha de Luxo") gabou-se ao lançar "A Sangue Frio" de ter criado um gênero literário, o "romance de não-ficção". E esta foi apenas uma das polêmicas que ladeia a obra de Capote.
Um dia Capote estava lendo o jornal quando viu a matéria sobre uma família no Kansas que fora brutalmente assassinada e resolveu escrever sobre o acontecimento. Ele fez as malas e foi para cidadezinha de Holcomb um mês após o assassinato ter ocorrido em 15 de novembro de 1959. Apenas seis anos depois o livro seria lançado.
Na cidadezinha rural do Kansas, vivia um pai de família, sua esposa e os dois filhos adolescentes - o casal possuía duas filhas mais velhas, uma já casada e outra na faculdade de Kansas City. A Sra. Cutter sofria de depressão e mal saía de casa. O Sr. Clutter, um fazendeiro rico e respeitado na região. E os filhos eram bons exemplos e muito amados por todos da sociedade local. Uma família que frequentava a igreja, tratava bem os funcionários, bons exemplos. Na aquela manhã de novembro de 1959, os quatro membros da família são encontrados mortos. Ninguém pode imaginar o motivo, ou quem seria capaz de tal crueldade. A polícia não possui muitas pistas. O namorado da jovem Nancy Clutter - que fora a última pessoa a deixar a casa na noite anterior é o principal suspeito a princípio, mas logo esta ideia é descartada. Naquela cidade pacata onde até então os moradores deixavam suas portas destrancadas, a suspeita se instalara. Qualquer vizinho passa a ser suspeito. Estão todos amedrontados.
O autor, através de entrevistas com amigos, funcionários e moradores, descreve ao leitor o que teria sido o último dia da família Clutter e nos da uma ideia de como era cada um deles. Contudo, os protagonistas desta trama são os assassinos, Perry e Dick.
Capote remonta em detalhes a noite do crime, a fuga, o que motivou os assassinos. Como se conheceram e relação complicada entre Perry e Dick que tinham personalidades tão distintas. A infância de cada um deles, os problemas familiares e dificuldades financeiras. Até o momento que são capturados, condenados a morte e levados à forca.
Apesar de baseado em fatos reais, o autor é acusado de romancear não apenas a trama como também seus personagens, especialmente o acusado Perry Smith. Durante a leitura, não escapa ao leitor o sentimento de comiseração que o autor tenta despertar ao condenado. Em alguns momentos, lutei contra este compadecer pelo Perry, contudo quanto ao seu colega Dick, senti repulsa e fiquei enojada. Se foi proposital do autor despertar tais sentimentos ao leitor, não se sabe ao certo. Porém muitos acreditam que durante estes seis anos que Capote acompanhou o caso e manteve contato com os prisioneiros, desenvolveu certa afeição por Perry Smith. Esta seria outra polêmica envolvendo o livro.
Muitos dos entrevistados disseram ter suas declarações modificadas, e o fato do autor não utilizar de gravador em suas entrevistas fizeram com que fosse questionado o quão apurada seria sua obra.
O livro foi escrito e desenvolvido de forma primorosa. Não se trata de um romance, ou thriller, policial como estamos acostumados, e sim, um relato muito bem contado sobre o assassinato que deixou a cidadezinha do Kansas aturdida.
Eu achei a leitura muito interessante, mesmo não sendo exatamente o estilo de leitura que costumo ler. Foi fácil me envolver na história e fiquei impressionada com a forma bela que o autor descreve sem deixar a leitura cansativa. O livro me levou a muitas reflexões, algumas que são controversas discussões que ainda debato internamente.
Acho que esta foi uma leitura que valeu a pena. Tanto pelas polêmicas que envolvem o livro - e me deixaram curiosa em lê-lo - quanto pela trama em si que foi tão bem escrita. Algumas declarações de Perry me deixaram chocadas (veja abaixo), a morte da família Clutter me deixou chocada tanto quanto deveriam ter chocado os moradores de Holcomb. Se essa esta era a intenção do autor, ele foi decididamente bem sucedido.
Perry que havia tratado cada membro da família com gentileza, tentado suavizar a situação em que se encontravam, e inclusive impediu Dick de estuprar a jovem Nancy Clutter. E foi este mesmo rapaz que atirou em cada membro da família e fez a seguinte declaração:
"Se eu me sinto arrependido? Se é isso que você quer saber - não. Não sinto nada. Bem que eu queria. Mas nada daquilo me incomoda nem um pouco. Meia hora depois que acabou, Dick já estava fazendo piadas e eu já estava rindo delas. Talvez nem eu nem ele sejamos humanos. (...) Por que? Soldados não perdem o sono. Matam gente e ganham medalhas por matar. Os bons habitantes do Kansas querem me matar - e algum carrasco vai ficar bem satisfeito de ser encarregado da tarefa. Matar é fácil - muito mais fácil do que passar um cheque sem fundo."
"A sangue frio" é um clássico norte-americano que se deve entrar para sua lista de leitura de: "livros para se ler em algum momento da vida". Recomendado!
Muitos dos entrevistados disseram ter suas declarações modificadas, e o fato do autor não utilizar de gravador em suas entrevistas fizeram com que fosse questionado o quão apurada seria sua obra.
O livro foi escrito e desenvolvido de forma primorosa. Não se trata de um romance, ou thriller, policial como estamos acostumados, e sim, um relato muito bem contado sobre o assassinato que deixou a cidadezinha do Kansas aturdida.
Eu achei a leitura muito interessante, mesmo não sendo exatamente o estilo de leitura que costumo ler. Foi fácil me envolver na história e fiquei impressionada com a forma bela que o autor descreve sem deixar a leitura cansativa. O livro me levou a muitas reflexões, algumas que são controversas discussões que ainda debato internamente.
Acho que esta foi uma leitura que valeu a pena. Tanto pelas polêmicas que envolvem o livro - e me deixaram curiosa em lê-lo - quanto pela trama em si que foi tão bem escrita. Algumas declarações de Perry me deixaram chocadas (veja abaixo), a morte da família Clutter me deixou chocada tanto quanto deveriam ter chocado os moradores de Holcomb. Se essa esta era a intenção do autor, ele foi decididamente bem sucedido.
Perry que havia tratado cada membro da família com gentileza, tentado suavizar a situação em que se encontravam, e inclusive impediu Dick de estuprar a jovem Nancy Clutter. E foi este mesmo rapaz que atirou em cada membro da família e fez a seguinte declaração:
"Se eu me sinto arrependido? Se é isso que você quer saber - não. Não sinto nada. Bem que eu queria. Mas nada daquilo me incomoda nem um pouco. Meia hora depois que acabou, Dick já estava fazendo piadas e eu já estava rindo delas. Talvez nem eu nem ele sejamos humanos. (...) Por que? Soldados não perdem o sono. Matam gente e ganham medalhas por matar. Os bons habitantes do Kansas querem me matar - e algum carrasco vai ficar bem satisfeito de ser encarregado da tarefa. Matar é fácil - muito mais fácil do que passar um cheque sem fundo."
"A sangue frio" é um clássico norte-americano que se deve entrar para sua lista de leitura de: "livros para se ler em algum momento da vida". Recomendado!
Minha classificação para esse livro é de ❤ 5/6- "Muito Bom".
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A sangue frio. Capote, Truman. Editora Cia das Letras, 2003, 440 p.