No topo daquele mundo fantástico, quase não se lembrava de família, escola, amigos, inimigos e traições. Só pensava em beleza e liberdade. Sentia-se dona do mundo. (Pág. 44)
Em O Reino das Vozes Que Não Se Calam conhecemos Sophie, uma garota que se sente diferente das demais e que sofre também com a indiferenças das pessoas. Por ter uma compleição física muito magra e alta, uma pele muito pálida e os cabelos vermelhos, ela se sente deslocada e se esconde atrás de roupas muito largas e escuras. Introspectiva, ela também não se sente a vontade dentro de sua própria casa, onde não se sente amada e querida pelos pais. Até sua amizade com Anna, sua melhor amiga, acaba após um desentendimento. Ainda é vítima do bullying por ser muito magra, todos acham que ela é anoréxica e a ridicularizam, mas mesmo que se alimente regularmente, ela não consegue engordar.
Até que em uma bela noite, Sophie adormece e vai parar em um reino mágico e belíssimo, onde as pessoas a amam e a aceitam do jeito que ela é. O Reino das Vozes Que Não Se Calam reúne tudo o que Sophie sempre desejou beleza por toda parte e não um mundo cinza, sem cor, onde os dias passam devagar, sonolento. Amigos que a adoram, sobretudo, uma família. Sentir-se amada, desejada, querida.
Seu dilema se torna ainda maior quando começa crescer uma amizade muito grande entre Léo, um rapaz muito fofo e que deseja muito se tornar seu amigo e Nica (Mônica), uma garota que tenta fazer Sophie enxergar quem realmente ela é e que não precisa se esconder do mundo.
Será que Sophie será capaz de abandonar sua própria família e seus novos amigos para ir para o outro reino?
Quando recebi da Editora Rocco o livro para resenhar, fiquei primeiramente encantada com a capa do livro que é belíssima. Eu nunca acompanhei nem a carreira da atriz Sophia Abrahão nem da autora Carolina Munhóz, por isso, quando iniciei a leitura estranhei muito a descrição das personagens que era a imagem e semelhança das duas. Comentei no facebook sobre a similaridade e uma amiga me informou que realmente a ideia desde o princípio era fazer Sophie, a imagem de Sophia Abrahão, e Sycret, de Carolina Munhóz. Depois busquei uma entrevista que foi feita com as duas escritoras e a construção da história se tornou mais clara para mim.
A história toda gira em torno do drama vivido por Sophie que se sente diferente das outras pessoas devido a sua constituição física (típica de modelo!). Ela também não se sente compreendida pelos pais e aceita. Ela passa seus dias entre a escola e sua casa, tentando evitar o máximo as pessoas e dormindo a maior parte do tempo e vivendo no seu próprio mundinho interior.
É bastante claro que a personagem é vítima do bullying (assim como as próprias autoras durante a adolescência) e que essa perseguição piora mais ainda sua depressão e baixa estima por si mesma. Eu admito que fiquei me sentindo um pouco oprimida ao ler tantos sentimentos e pensamentos negativos que a garota sentia por ela mesma. Ela se afogava em auto-piedade, suas atitudes gritavam por ajuda e atenção, apesar dela recusar toda forma de interação com o mundo exterior. Apesar do cuidado das autoras em nos colocar em dúvida sobre a existência do reino, para mim ficou bastante claro que quando ela começa a visitá-lo, uma outra dimensão onde a beleza, o amor, a amizade, a união e a aceitação são na verdade um mundo criado dentro da própria Sophie, uma válvula de escape da sua realidade.
Ninguém pode fazer outra pessoa feliz. Nós precisamos encontrar a nossa própria felicidade. Eu nunca achei que fosse digna de ser feliz. Esse sempre foi o grande problema. (Pág. 251)
A história apesar de ser voltada para o público juvenil, ela faz um convite ao leitor (de todas as idades) para refletir sobre a depressão na adolescência e também sobre as consequências de quem é sofre vítima do bullying. Mais tudo de forma muito delicada, prazerosa e encantadora. Na realidade, a mensagem da Sophia e Carolina são muita clara: todo ser humano possui o poder de mudar sua realidade, de se redescobrir, de aceitar a si mesmo e ao mundo ao seu redor, sobretudo, que uma amizade verdadeira é capaz de salvar vidas. A realidade e a fantasia moram nesse livro. Recomendo!
Minha classificação para esse livro é de ❤ 4/6- "Muito Bom".
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O Reino das Vozes Que Não Se Calam. Munhóz, Carolina; Abrahão, Sophia. Editora Rocco, 2014, 288 p