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{Livros & Filmes} "Intocáveis" e "O Segundo Suspiro", de Philippe Pozzo di Borgo

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Todo mundo AMA o filme Intocáveis. Bom, pelo menos eu não conheço nenhum ser humano que tenha visto e não tenha gostado. O filme sobre a amizade improvável entre um multimilionário tetraplégico e seu jovem assistente, brilhantemente interpretados por François Cluzet e Omar Sy, foi um sucesso estrondoso de crítica e bilheteria, principalmente na Europa, e ainda hoje é o segundo filme mais visto da França, e foi responsável, aliás, por ajudar a tornar o cinema francês mais popular. Intocáveis é um drama, mas está muito mais para a comédia. Omar Sy arranca gargalhadas com o seu Driss nas mais diversas situações, e, mesmo sendo sobre um tetraplégico, o filme é muito leve, uma atração para toda a família. Não tem como não amar Intocáveis! Mas, o que muita gente não sabe, é que o filme foi baseado em um livro, ou melhor, num best seller. O Segundo Suspiro, escrito pelo próprio Philippe Pozzo di Borgo.


Eu sou completamente apaixonada pelo filme! E, assim que soube que era inspirado em um livro, adivinhem! Fui correndo procurá-lo para ler! E me surpreendi. O filme é TOTALMENTE diferente do livro! Quem espera ver as mesmas situações engraçadas, a mesma história, vai sair muito decepcionado. Trata-se de uma autobiografia de Philippe Pozzo di Borgo, contando desde sua infância abastada até mesmo durante a gravação do filme. Boa parte do livro é dedicada a Béatrice, sua esposa, pela qual ele tem verdadeira adoração, e que sofreu muito nessa vida: primeiro com seus inúmeros abortos, devido à dificuldade de engravidar, depois com um câncer com o qual lutou por mais de dez anos e que acabou por tirar-lhe a vida, e os cuidados com o marido que se tornou tetraplégico e totalmente dependente. A maior dor e tragédia da vida de Philippe foi a morte de sua mulher, não o acidente de parapente que lhe tirou os movimentos. Ele conta de seus filhos (sim, filhos), como foi sua vida depois do acidente e, sim, lá no meio está Abdel Sellou, jovem argelino que trabalhou como seu cuidador.

As diferenças entre livro e filme começam aí. Abdel virou Driss; o jovem argelino virou senegalês. O rapaz de feições árabes se tornou um negro. Mas isso não foi um problema: o próprio Philippe declarou que Omar Sy captou bem a essência e o humor de Abdel. Por que aconteceram essas mudanças drásticas, ainda não sei. Outra grande diferença está na família: no filme Philippe tem apenas uma filha, Élisa, uma jovenzinha revoltz. Na vida real, Élisa é Laetitia, que foi adotada em Bogotá pelo casal, bem como Robert-Jean, mais novo. No final do filme é dito que Philippe voltou a se casar, mas a escolhida está longe da francesa com quem ele mantinha correspondências (ele até mantinha cartas com Clara, uma jovem por quem se apaixonou, mas não se trata da mulher do filme). Sua esposa é a marroquina Khadija, com quem adotou mais duas meninas. 

Há diferenças na história também. Abdel, por exemplo, se candidatou ao emprego (sim, se CANDIDATOU) ainda enquanto Béatrice estava viva, e acompanhou todo o sofrimento dela. Como era muçulmano, não fumava nem bebia, então, nada dos baseados de Driss. Pegava toda e qualquer mulher que desse mole, e não foram poucas; hoje está casado. A paixão pela velocidade ainda está lá, e também a inconsequência. Algumas passagens são bem parecidas, como a sequência de abertura do filme (fuga de uma blitz usando a deficiência de Philippe), a droga dada por Abdel/Driss (no livro é haxixe), as massagistas que ele arranjava para seu patrão, o voo de parapente depois do acidente... São passagens muito diferentes do modo como mostradas no filme, mas dá pra se lembrar e deixar aflorar um sorriso. Na verdade, Abdel tem pouca participação no livro; aparece mais no "livro 2", O Diabo Guardião, uma espécie de adendo escrito depois, dá a entender que foi escrito já durante a gravação do filme. 

Muita gente pode não gostar de O Segundo Suspiro. Na verdade, pelo que vi nas resenhas no Skoob, muita gente ODIOU! É que o livro não é comercial; é mais um diário, e como Philippe o escreveu usando um gravador que aciona e desliga de acordo com o som de sua voz, há muitos fragmentos de ideias, pensamentos, coisas desconexas mesmo. Seu modo de escrever é bem rebuscado, e o humor do filme não está lá: o livro é muito sombrio, melancólico, doloroso mesmo. Mas é um relato sensível de um homem que sofre de "dores de ausências", a de seu corpo e a pior, a de sua amada. Um livro relativamente curto (li o e-book no celular durante algumas madrugadas insones e acabei bem rápido), mas que te faz mergulhar na experiência de seu narrador; ouso dizer que a história é até envolvente. Mas há que se ter paciência mesmo, e a cabeça um pouquinho distante do filme.

Philippe e Abdel

Philippe, sua esposa e filhas.


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