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"A Comissão Chapeleira", de Renata Ventura

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Foram uns cinco meses de leitura interrompida, mas finalmente consegui terminar esse livrão, literalmente falando! Como eu dei uma parada na leitura no final do ano passado, me lembro das partes do início como se tivesse lido há mais de um ano! Mas vamos tentar fazer essa resenha, a última das minhas comprinhas da Bienal de SP 2014.

Chapeleiras: eu e a Renata "Destruidora" Ventura na Bienal SP.
Hugo Escarlate está de volta, senhoras e senhores! O garoto indomável do Dona Marta voltou, mas não do mesmo jeito que antes. Depois de tudo o que aconteceu no ano anterior, e, principalmente, depois das burradas que fez (e tentou consertar), ele tenta desesperadamente ser uma pessoa melhor, começando por arrumar um emprego em uma loja de fabricação de varinhas. O início daquele ano de 1998 já começa pegando fogo, com uma acirrada disputa pelo cargo de Presidente da República Bruxa.

Todo mundo sabe que eu sou bem sincera nas minhas resenhas, né? Então preciso começar a dizer a verdade logo. Achei o início do livro bem chato. Os papos intermináveis sobre política, ainda mais numa época em que EU já estava saturada do assunto (período de campanha política aqui. Cês lembram, né? Aécio, Dilma, Marina, etc...), quase me fizeram desistir do livro. A visão romântica dos Pixies sobre o assunto, beirando quase a ingenuidade, principalmente a respeito de seu candidato, o Átila Antunes, soava quase irreal. Pode ter sido muito legal para algumas pessoas, principalmente para os milhares de jovens que são fãs incondicionais da obra (e eu concordo que, colocar um pouquinho de senso político nessas cabecinhas juvenis é MUITO BOM), mas para MIM foi sofrível. Aliás, já que estamos falando dos defeitos, posso dizer que essa visão romântica e boazinha demais me incomodou muito em todo o livro, principalmente um personagem em especial: o amado Capí. Ele é perfeito! E que ninguém venha me dizer que não é, porque é sim! E isso me irrita nele. Muito! Ele não é humano, e espero que haja alguma explicação para esse comportamento irreal dele, ou que, um dia, eu o veja explodir. Já lancei até uma hashtag no grupo Armada Escarlate Brasil, no Facebook: #LiberaCapí. Solta a franga, garoto! Libera essa pessoa que existe em você!

Outro problema é o tamanho do livro. Extenso demais, informação demais, e muitas coisas que eu tiraria de boas, pois ficaram meio que deslocadas no meio da trama já saturada de assunto. Maaaaas, conhecendo a Renata como acho que conheço do primeiro livro, tudo aquilo que eu considero inútil deve ser super útil algum dia, num livro futuro. Assim como J. K. Rowling, sua "inspiradora", dona Ventura não dá ponto sem nó. Mas, mesmo assim, cada uma das partes (são três) daria um livro independente, de tão grandes e complexas. E, apesar do tamanho, muita coisa se resolvia muito rápido, às vezes com uma simples explicação que dá até pra aceitar, mas que fica com aquele gostinho de "acho que fui enrolada". Pelo menos teve uma explicação, né...

Voltando à história, a tal Comissão Chapeleira do título é uma comissão truculenta e assustadora que veio para, em nome do novo governo, restaurar a moral e os bons costumes (te lembram algo?) no mundo bruxo, a começar pelas escolas, que é onde a educação começa. A bagunçada escola do Rio, a Notre Dame Du Korkovado, é a primeira da lista, e as ações da comissão tentam, a todo custo, "europeizar" o comportamento de alunos e professores. Ou seja, o negócio virou praticamente um campo de concentração feat. ditadura. No topo da "cadeia alimentar", o temível general gaúcho Ustra (MEDO!) e o atraente, elegante, sensual, ardente, gostoso... Calma, Karine! O sedutor e poderoso Alto Comissário Mefisto Bofronte. Renata somente nos apresenta a seu vilão no segundo livro, e ele é enigmático, assustadoramente anacrônico, impossível de se catalogar. Algo me diz que os próximos livros serão bombásticos!

É assim que eu imagino o Bofronte, não teve jeito! O olhar intenso e a postura imponente de Thorin são perfeitas!
Não dá pra se falar muito de um livro que é continuação, para não dar spoiler dos anteriores, mas posso dizer que a escrita de Renata continua impecável (pouquíssimos erros, ponto pra edição também!), sua viagem pela cultura brasileira continua maravilhosa! Aliás, muitos novas lendas da nossa rica mitologia estão presentes nesse livro, algumas aterrorizantes demais, outras que vão te deixar encantado, e algumas das quais você nunca ouviu falar, mas que, em alguma região do Brasil elas existem, e Renata nos apresenta a elas. A cultura africana também tem seu lugar, dessa vez de destaque, com parte da ação acontecendo na escola de magia de Salvador, o Instituto Paraguaçu, cujo mote foi a presença da baianinha arretada Janaína. A presença marcante dos orixás, a separação dos alunos por afiliação, com cada aluno ficando na "casa" do respectivo orixá de quem é filho (lembraram de Percy Jackson? Mais ou menos isso, só que mais legal, com estátuas quase vivas às portas...), as aulas de Macumba, com direito a professor Preto Velho (e aqui você deve deixar seu preconceito de lado) e dois diretores mais do que especiais, tornam a Cidade Média, terra dos Caramurus, uma parte interessantíssima da história. 

Tanta coisa que eu queria dizer, mas não posso! O Hugo continua sendo meu personagem favorito, por ser o mais humano, com todas as suas burradas e arrependimentos. E Renata Ventura continua fazendo o que faz de melhor: trucidando os nervos dos pobres leitores. Mas, apesar de toda a maldade, o primeiro livro ainda me pareceu mais cruel, cru e pesado. Esse teve uma crueldade quase exagerada, talvez para gerar empatia do leitor, e você fica realmente assustado com o prazer que essa senhora tem em causar dor nos personagens. É muita tortura, muita dor, corações dilacerados, tudo até mesmo um pouco forçado. Segura a onda aí, menina!

O que mais posso dizer? Leiam, leiam A Arma Escarlate e A Comissão Chapeleira! Eles trazem o que a boa literatura fantástica nacional está precisando: muito folclore, NOSSO folclore! Cultura, História e Mitologia em uma trama de ação bem carioca e mágica, pra bruxo europeu nenhum botar defeito! Super recomendo! Só não para quem coração sensível...

P. S.: In Playboy I trust(ed)!

E é DESSE olhar que estou falando.

Minha classificação para esse livro é de 5/6- "Excelente".
Veja a cotação do livro no SKOOB e a opinião de outros leitores.

A Comissão Chapeleira. Ventura, Renata. Editora Novo Século, 2014, 655 p. 


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