“As histórias das pessoas não deveriam ser contadas por seus inimigos.”
Quem não conhece aquela linda história de guerra, conflito político e religioso, sem falar das traições, que é a grande lenda do Rei Artur?
Eu lembro a primeira vez que entrei em contato com essa lenda. Eu devia ter uns onze anos na época e minha escola estava me obrigando a ler um livro sobre o assunto. O tal livro, ao contrário desse que está sendo resenhado, era pequeno (no máximo cem páginas) e tinha um vocabulário bem simples. Mas eu ainda não gostava de ler. Achava chato, porque era algo que me obrigavam a fazer.
Minha melhor amiga estava em minha casa naquele dia e descobriu que eu precisava ler o livro como tarefa de casa e me fez ler ele pra ela em voz alta. E eu lembro nitidamente o meu choque quando descobri que Guinevere traía o Artur com o Lancelot. Pense numa criança traumatizada. Eu estava acostumada com filmes da Barbie, gente. Era ballet, magia, bichinhos amigos e príncipes. Ai do nada... PA! Choque de realidade.
Enfim, apesar desse tapa na minha cara, eu acabei gostando de ler aquele livro. E eis que anos mais tarde me deparo com uma versão do autor Bernard Cornwell sobre o mesmo tema.
Antes de mais nada, vale lembrar que a história do Rei Artur nunca foi comprovada. É tipo o Ragnar de Vikings, ninguém sabe se eles de fato existiram. Mas, mesmo com essa indecisão, os críticos dizem que a versão do Cornwell dessa lenda foi a que mais se aproximou da realidade da época.
O Rei do Inverno fala sobre Artur, mas ele não é o personagem principal. Essa é uma grande característica dos livros do Cornwell. Lemos sobre a história de alguém através do ponto de vista de outra pessoa. Nesse caso, Derfel Cadarn. Acompanhamos ele em seus diferentes estágios da vida enquanto ele nos apresenta os personagens e nos mostra como Artur veio a ser conhecido e respeitado, como conheceu Guinevere, como conheceu Lancelot, como as guerras se passaram e como Artur lidou com tudo isso.
O que me impressiona é como os personagens são bem construídos e como, mesmo estando lendo o livro a partir da perspectiva de uma única pessoa, conseguimos ver os dois lados de cada um dos personagens.
Outra coisa maravilhosa é a descrição das batalhas. Meu sinhô. É muito bom mesmo! Eu me senti como se estivesse lá, assistindo aquele derramamento de sangue todo.
O livro é excelente e é o primeiro da trilogia As Crônicas de Artur. Super recomendo o livro para todo mundo. Se você nunca leu uma obra do Cornwell, acho que essa é uma boa escolha para sua primeira vez.
Minha classificação para esse livro é de ❤ 6/6- "Obra-prima".
O Rei do Inverno. Cornwell, Bernard. Record, 2015, 546 p.