Ralph chorou pelo fim da inocência, pela escuridão do coração humano [...]"
Um avião quebra e cai em uma ilha deserta no meio do Oceano Pacífico. Apenas crianças sobrevivem. Longe da família, dos amigos e da vida que estavam acostumados a ter, esses garotos com idade por volta de nove anos precisam aprender a conviver e procurar meios para serem resgatados. No entanto, em um local ausente de adultos, consequentemente ausente de regras, retornar para casa é o desejo de todos?
Durante uma reunião dos sobreviventes, surge a necessidade de nomear um líder. O grupo possui dois possíveis candidatos: Ralph e Jack. Após uma votação, a decisão é quase unânime: Ralph é o escolhido. Assim que seu "mandato" começa, o garoto tenta definir normas e distribuir tarefas, como a construção de abrigos e de uma fogueira, com o objetivo de manter tudo organizado até que o resgate chegue.
Acontece que algumas das crianças começam a se questionar em relação à sociedade que formaram, mesmo aquelas que se mostraram confiantes no início. Isso é realmente necessário? Eles precisam de fato criar regras e se submeter a um líder? Haverá mesmo um resgate? A partir desses questionamentos, o grupo começa a se dividir e a situação fica mais complicada.
As pessoas não ajudam muito. Ralph queria dizer que as pessoas nunca eram bem o que se pensava delas. (Pág. 86)
No início da trama, todas as crianças sobreviventes, que por sinal são apenas meninos, se mostram dispostas a cooperar para que seja possível viver na ilha, já que elas logo percebem que não existem outras pessoas no local. O primeiro a se manifestar em relação à situação do grupo é Ralph, que convoca uma assembleia utilizando uma concha, objeto que acaba se tornando característico da sociedade formada ali. Nessa reunião, fica decidido que Ralph será o líder e logo é estabelecido que alguns ficarão para construir abrigos e uma fogueira, enquanto outros, guiados por Jack, irão explorar a ilha e caçar animais para servir de alimento.
O problema começa a se formar quando um possível resgate é arruinado. Por falta de pessoas para ajudar a manter o fogo aceso, já que vários dos garotos seguiram Jack, o navio que passa nas proximidades da ilha não nota a presença das crianças. Esse ocorrido causa revolta em Ralph, que começa a reclamar sobre o fato de muitos estarem se divertindo enquanto poucos trabalham. Com isso, Jack passa a propagar a ideia de que nenhum navio irá aparecer, de que eles precisam aprender a viver na ilha, aproveitando tudo isso, e esquecer a existência de regras, afinal, não há adultos no lugar.
Senhor das Moscas é visto como uma metáfora para vários aspectos da existência humana. Através da sociedade criada por essas crianças, é possível observar diversas características do ser humano e da sua forma de lidar com as situações que lhes são impostas, além das suas mudanças de temperamento ou talvez manifestações de traços que não são tão evidenciados em determinados contextos. Logo, o livro possui diversas interpretações e eu tenho certeza de que não soube absorver boa parte delas.
Assim que finalizei a leitura, precisei parar para digerir essa obra e confesso que ainda estou nesse processo. Enquanto estava lendo, não sabia dizer se estava gostando ou não. Após organizar melhor meus pensamentos acredito que gostei muito daquilo que o autor quis e conseguiu passar através da construção dessa comunidade ao mesmo tempo em que não curti tanto alguns pontos da narrativa.
O livro é dividido em capítulos e algumas vezes eu tive a sensação de ter perdido alguma coisa na transição dessas partes. Principalmente na primeira metade da obra, parecia que muito havia se passado e não sido compartilhado com o leitor. Entretanto, o que acabou me incomodando foi o ritmo da história. No começo eu estava bem empolgada e curiosa, mas lá para o meio a leitura se tornou um tanto arrastada; creio que isso ocorreu devido a algumas descrições não tão interessantes.
Confesso que tive uma certa dificuldade em aceitar alguns comportamentos dos garotos. Na minha cabeça, crianças ficariam mais preocupadas com a ausência de adultos, teriam mais medo de ficar sozinhas em uma ilha e não seriam capazes de realizar determinadas atitudes. Depois que assisti à adaptação cinematográfica (a de 1990), consegui considerar uma situação desse tipo. Em grupos de garotos sempre existe aquele brigão, que quer ser o melhor em tudo e mandar nos amiguinhos. No geral, crianças querem mostrar que podem se virar sozinhas, que são independentes. Tendo uma experiência visual desse contexto, foi mais fácil entender a conduta dos garotos na ilha.
Apesar de a cena final ser um tanto previsível, o desenvolvimento da obra e os acontecimentos que levam até o desfecho são surpreendentes. Alguns desses ocorridos me chocaram e um em especial me deixou bem triste. Senhor das Moscas é um livro curto, porém intenso e que demanda certo tempo para ser digerido. Uma ótima pedida para aqueles que gostam de analisar a natureza humana e se questionar acerca dela.
Minha classificação para este livro é de ♥ 4/6- "Muito bom".