Nesse começo de 2017 a Netflix veio pra matar e destruir o coração da gente com a adaptação de Desventuras em Série logo em janeiro. Depois do filme de 2004, tudo o que os fãs queriam era que a história fosse concluída e, por Deus, por que estava demorando tanto? No meio da enrolação burocrática o tempo passou e as crianças cresceram. Sorte a nossa que o sonho não morreu e a Netflix comprou a ideia de transformar a série de livros numa série para a TV, o que faria até muito mais sentido. Parecia que o tempo não passava, mas enfim chegou janeiro e cá estamos para falar daessa que é a primeira grande estreia de 2017 do nosso serviço de streaming preferido.
Para quem não conhece a história (o que acho meio difícil, afinal, o filme de 2004 com o Jim Carrey passa até na Sessão da Tarde) vou resumir bem resumidinho: Violet, Klaus e Sunny Baudelaire são três crianças maravilhosas que perdem os pais e tudo o que têm em um grande incêndio. A partir daí elas ficam aos cuidados do banqueiro Sr. Poe (pessoa mais irritante da face da Terra) e são mandados para seu parente mais próximo, o Conde Olaf, que faz de tudo para colocar as mãos na fortuna que os pais deixaram para os órfãos. Depois disso eles passam por alguns tutores e vários lugares, sempre fugindo do terrível vilão, e descobrindo algumas coisas a respeito da vida secreta de seus pais pelo caminho. Essa é mais ou menos a história. A primeira temporada da série (ao contrário do filme, que só chegou até o terceiro livro) adaptou os quatro primeiros livros, "Mau Começo", "A Sala dos Répteis", "O Lago das Sanguessugas"e "Serraria Baixo Astral" e cada um deles é dividido em dois episódios, ou seja, são oito episódios apenas. Dá pra maratonar numa tarde preguiçosa.
Sem mais delongas, vamos às opiniões. Eu sou muito suspeita para falar qualquer coisa porque simplesmente amo a série. Vi o filme, li todos os livros (comecei o primeiro há exatos 10 anos) e sou apaixonada pela história e pelo estilo narrativo de Lemony Snicket, ou, no caso, Daniel Handler, o autor. Acho tudo de uma sagacidade, inteligência e genialidade ímpares; a linguagem pós-moderna que torna o autor e narrador um personagem da própria história e a interação com o leitor é o que o torna especial, assim como as milhares de referências cults e literárias que enriquecem as páginas. Graças ao deus das adaptações literárias, tudo isso está presente na nova série! A presença e interação de Lemony Snicket nas cenas, que por vezes interrompe os acontecimentos para dar explicações ou para falar qualquer coisa está lá, e eu realmente achei que sentiria falta do Jude Law, mas me acostumei e até gostei muito do novo ator, um homão da p**** de olhos azuis profundos, voz grave e porte imponente. As referências também estão, e uma delas, a mais divertida pra mim, foi quando Stefano, um dos disfarces de Conde Olaf, diz que não gosta de cinema pois prefere assistir TV no conforto de seu lar. Nesse momento ele faz uma pausa, olha para a câmera, direto para você e dá um sorrisinho sarcástico. Eu senti o impacto (risos). E também dá para ver o autor se mesclando aos poucos com a história, e também um pouco mais da organização secreta que só apareceria alguns livros mais à frente, mas que provavelmente foi usada para dar mais dinamicidade aos episódios (e esticá-los um pouco mais, também, porque cada livro daria um episódio só).
O elenco é maravilhoso. Adorei o Neil Patrick Harris como Conde Olaf. Gosto muito do Jim Carrey, mas o Neil deixou o vilão mais sombrio, violento e engraçado e ainda assim caricato, mas sem exagero (estamos falando de Jim Carrey, né, o bichinho exagera nas caretas); conseguiu dosar tudo na medida certa. E ainda canta a música de abertura (atenção: ela muda ao longo dos episódios). As crianças são boas também e tão parecidas com as do filme que ainda quero ver uma árvore genealógica que me prove que Malina Weissman não é parente da Emily Browning. O bebê que interpretou Sunny foi além da fofura, excepcionalmente adorável em todos os minutos e é impossível não querer morder (ironia aqui). Foi difícil, porém, se desvencilhar da imagem de alguns personagens antigos que ficaram muito diferentes do filme e não tem como não sentir saudade da Meryl Streep como Tia Josephine, mas o Tio Monty ficou com mais cara de explorador aventureiro e o sr. Poe ficou ainda mais irritante, o que foi muito bom.
O único ponto negativo que eu apontaria seria o tamanho dos episódios. Muita gente reclamou que os tamanhos são variados demais: enquanto um episódio tem pouco mais de 40 min outro tem mais de uma hora, mas eu achei todos muito longos. Poderia ter ficado mesmo na casa dos 40 min ou menos, pois dá pra ver que a história foi esticada demais em alguns pontos. Senti falta também do visual gótico do filme, principalmente do figurino maravilhoso e steampunk da Violet, mas a pegada colorida e sombria ao mesmo tempo, meio "Edward Mãos de Tesoura" caiu como uma luva também para a série, assim como a trilha sonora que ficou perfeita. A inserção de alguns personagens "novos" e e outras situações que não estavam nos livros não atrapalhou a adaptação, pelo contrário, deu um fôlego novo e uma adiantada na trama principal. Um casal que aparece já no final do primeiro episódio vem para girar, para não dizer ferrar, com a nossa cabeça! Além de tudo, o tom gótico e sombrio dos livros está lá, assim como a melancolia de Lemony Snicket, o humor refinado e as falas singulares de Sunny que são legendadas e são geniais (Sunny melhor Baudelaire). O formato de dois episódios por livro achei bom para aliviar a maratona e bom para quem tem mais o que fazer (não é o meu caso) e não pode ver os oito episódios de uma vez, pois você pode ver de dois em dois e pausar pra ir fazer outra coisa, como chorar nos cantos pelo destino trágico dos órfãos Baudelaire. Agora, te desafio a ver tudo de uma vez e não ficar dois dias com a música de abertura martelando na sua cabeça. #paz
É melhor não olhar...