Mas, sim, esta é Gjallar, a Trombeta e/ou Tablet do Juízo Final! Quando eu sopro essa belezinha uma vez, os deuses sabem que tem algum problema em Asgard e vêm correndo. Quando eu sopro duas, é dia de Ragnarök, bebê!
Rick Riordan segue com sua saga de retratar as várias mitologias misturadas ao mundo contemporâneo e para o público jovem. Depois de se aventurar pelo mundo grego com sua primeira e mais famosa série, Percy Jackson e os Olimpianos, pelo romano com Os Heróis do Olimpo e pelo universo egípcio com As Crônicas dos Kane chegou a vez da rica mitologia nórdica. O primeiro livro da série, "A Espada de Verão" nos apresenta ao protagonista, Magnus Chase, primo de Annabeth Chase, a namorada de Percy Jackson, que, depois de perder a mãe e o apartamento em que viviam num incêndio estranho que tinha a ver com lobos cinzentos, passa a morar nas ruas de Boston onde conhece dois amigos, Blitz e Hearth. A vida do garoto safo, que parece um jovem Kurt Cobain com seus cabelos loiros e olhos azuis, muda quando seu tio rico e pouco confiável começa a falar sobre uma antiga espada viking cuja busca acaba levando o mocinho à morte numa ponte causada por um demônio do fogo. Fim. Sim, o mocinho morre. Spoiler alert. Mas até parece que no mundo nórdico é tudo tão fatalista. O jovem é levado por uma valquíria (donzela guerreira que leva a alma dos guerreiros que morreram de forma digna para o Valhalla) muçulmana filha de Loki para Valhalla, ou Hotel Valhalla, onde os guerreiros de Odin ou enherjar vivem, comem, bebem, lutam, morrem e ressuscitam até o Ragnarök, quando lutarão ao lado dos deuses. Lá Magnus ganha novos poderes de guerreiro e descobre ser filho do deus Frey e legítimo dono da Espada de Verão. Mas isso tudo é no primeiro livro e estamos aqui para falar do segundo (A Dô fez uma resenha AQUI ignorem o nome errado do livro, ela estava bêbada quando escreveu).
Nesse segundo livro Magnus Chase pensa que levará uma tranquila pós-vida agora que tudo se resolveu, morando no conforto do Hotel Valhalla e com seus amigos Blitzen, Hearthstone e Samirah, mas é claro que a vida de um guerreiro de Odin não é assim tão fácil. Numa bela manhã um bode (é, um bode) aparece disfarçado (sim, disfarçado) diante dele num café e diz que ele deve ajudar Thor a encontrar aquele objeto que está sumido já que ninguém pode saber que o poderoso martelo está desaparecido. O bode é assassinado em seguida por um misterioso assassino de bodes e a partir daí a calmaria vai por água abaixo e Magnus se vê mais uma vez preso no meio de uma trama louca orquestrada por Loki, o maligno deus das tretas. Um novo personagem, porém, aparece na história para integrar o time: Alex Fierro, o/a selvagem filho/filha de Loki. Sim, a personagem é uma pessoa de gênero fluido, embora leve isso a um patamar totalmente novo. Juntos, essa turma de desajustados passa por inúmeras aventuras loucas inspiradas nas histórias da mitologia nórdica com o objetivo de recuperar o martelo do deus do trovão.
Nem preciso falar nada sobre a escrita maravilhosa de Rick Riordan: o cara simplesmente não perde o jeito nem o encanto. A leitura é leve e fluida e me peguei rindo muito alto em inúmeras passagens. Sério, a mistura de mitologia com contemporaneidades cria um universo hilário, e isso unido ao humor sarcástico de Magnus, que narra a história em primeira pessoa torna ainda mais gostosa a leitura. Embora haja essas invenções doidas, como o Heimdall fazendo a louca das selfies (é dele a frase no início dessa resenha), Thor usando o Mjollnir para assistir a séries de TV e um castelo de gigantes que é uma casa de boliche, as histórias da mitologia estão retratadas de modo bem fiel. Depois que terminei de ler esse livro comecei "As Melhores Histórias da Mitologia Nórdica" e me surpreendi ao ver que Riordan foi extremamente fiel ao retratar a maioria das histórias. Uma coisa que amo nos livros do autor é que ele inclui personagens totalmente fora dos padrões: depois do deus bissexual Apolo em "As Provações de Apolo" e seu filho gay, agora temos uma valquíria muçulmana legítima que inclusive usa o hijab, o véu de devoção e que reza para Alá todas as vezes por dia como manda o Alcorão, mesmo sendo filha de um deus nórdico. Temos um protagonista morador de rua, um anão com senso de moda, um elfo deficiente auditivo e uma personagem gender fluid ou seja, às vezes se identifica como garota e às vezes como garoto, e Riordan trata tudo com a maior naturalidade do mundo, o que é maravilhoso num livro para jovens. O final nos convida a um possível encontro de Magnus e Percy e já quero um crossover na minha mesa até as 18h (sério, Rick, se não for pra não ter esse crossover melhor nem escrever). De acordo com a cronologia da série toda e com algumas falas de Annabeth, a ação de Magnus Chase se passa durante a estada de Apolo entre os mortais, depois dos acontecimentos de "Os Heróis do Olimpo" que estão na minha lista de leitura de 2017. Como se trata desse universo louco e delicioso de Rick Riordan, não é sacrifício nenhum. Agora é só aguardar a nova aventura do belo deus do sol antes do desfecho da saga do herói nórdico de Boston.
Minha classificação para esse livro é de ❤ 5/6- "Excelente".
O Martelo de Thor - Magnus Chase e os Deuses de Asgard #2. Riordan, Rick. Editora Intrínseca, 2016, 400 p.