Eu era Uhtred de Bebbanburg, o homem que havia matado Ubba Lothbrokson ao lado do mar e que havia derrubado Svain do Cavalo Branco de sua sela em Ethandun. Era o homem que dera a Alfredo seu reino de volta e o odiava. Por isso iria deixá-lo. Meu caminho era o da espada, e esse caminho me levava de volta para casa. Eu iria para o norte.
Cês lembram do Uhtred, né? Uhtred, filho de Uhtred, neto de... Cês tão ligados no padrão da família de Bebbanburg, certo? Depois de vencer a batalha de Ethandun para Alfredo e lhe devolver seu trono, numa reviravolta sensacional, quando Wessex parecia perdida, nosso herói ganha como recompensa apenas uma pequena propriedade e nem um mísero "muito obrigado, cachorro" do rei. Putaço, e com razão, Uhtred enterra seu tesouro, pega sua freira magrela e amante Hild (viúvo é quem morre, certo? A cabeça decepada de Iseult mal esfriou na cova) e parte pro norte sem olhar pra trás, a fim de recuperar suas terras e vingar seu pai adotivo. Como, sem um exército, sem dinheiro e sem terras, só com um cavalo, duas espadas e uma freira magrela eu não sei. Mas o cara é persistente e sabe que é lá que está o seu destino. E quando chega lá encontra a sua amada Nortúmbria mergulhada num caos. De um lado, Kjartan, o cruel, fdp desgraçado que matou Ragnarzão, e seu filho caolho Svein dominam uma fortaleza inexpugnável. Do outro, Ivarr Ivarson, filho do temível Sem Ossos, terror dinamarquês, sangue de Lothbrok que tem poder, mandando em metade das terras. E em terceiro, porque nada é tão ruim que não possa piorar, seu tio, o usurpador safado, que ainda comanda Bebbanburg, a fortaleza mais inexpugnável ainda. O negócio não parece muito promissor. Até que Uhtred conhece um escravo chamado Guhtred que se diz rei.
Guthtred é um serumaninho gozado. Todo trabalhado nos cachos dourados e dono de um sorriso contagiante, o pequeno dinamarquês esvaziador de baldes de merda se diz rei da Nortúmbria. E tem um monte de padres que atesta a veracidade do fato. Oooook, então. Quando percebe, porém, que Svein está contra ele, Uhtred se une ao moço e encarna pela primeira vez o guerreiro morto, vestindo-se todo de preto e aterrorizando o patife covardão. A partir daí, sem ter mais nada melhor pra fazer, Uhtred segue o jovem até uma pequena cidade que o recebe com festa, porque o dito cujo é mesmo rei, ungido por São Cuthbert, padroeiro da Nortúmbria (um padre sonhou com o santo abençoando o cara como rei. Não me perguntem) e ele é, então, coroado e Uhtred faz um juramento de ser seu guerreiro. É o modo mais rápido e fácil de conseguir tudo o que deseja. Só que o safado miserável o trai em nome da ajuda de Elfric, o tio usurpador de Bebbanburg e o vende como escravo a um navio mercante onde ele passa longos dois anos puxando remos, sofrendo e pensando em vingança ao lado do irlandês maluco Finnan. Só que ele não contava com a astúcia de Alfredo, Ragnarzinho e Steapa!
"Os Senhores do Norte" segue o padrão com selo de qualidade QUI LIVRÃO DA PORRA de Bernard Cornwell. Sua narrativa continua impecável como sempre, sempre descrevendo das paisagens às batalhas com riqueza de detalhes que te fazem sentir que você está lá, no meio da ação. A divisão dos livros em três partes dinamiza a leitura e sempre há uma reviravolta nova antes do clímax final, o que deixa a trama fluida e agitada sempre. E a narrativa do Uhtred... É um caso à parte. O guerreiro cínico, arrogante, afrontoso e sem papas na língua, que xinga reis e zomba de clérigos, que não tá nem aí pra hora da Inglaterra, que quer mais que o mundo se acabe em sangue pra morrer nadando nele, o dono dos melhores xingamentos, ele é que dá o charme que a trama precisa. Se fosse outra pessoa narrando talvez não fosse tão bom. O cara é genial e além de um grande guerreiro é um excelente estrategista e na última parte mostra que realmente é o maior mito que você respeita. Destaque também para padre Beocca no final que me deixou de queixo caído #TEAMBEOCCA e Ragnarzinho que foi fodão toda vida.
Com esse já são três os livros lidos das "Crônicas Saxônicas" de Cornwell. Se minhas preces a Odin forem ouvidas, em março ou abril será lançada a segunda temporada da série da BBC, "The Last Kingdom" e se for mantido o padrão da primeira, esse livro e o quarto, "A Canção da Espada", serão usados na adaptação. Estou curiosa para ver Guhtred nas telas, Finnan e o final do livro (achou que eu fosse dar spoiler hoje, né) e também tô doida pra ver o cadáver de São Cuthbert (sou doida sim). E espero sinceramente que não comam um Lothbrok, como fizeram na primeira temporada, pois estou esperando o Ivar até hoje, pelo menos o filho dele eu tenho o direito de ver! E vamos rezando pra que a Netflix tenha dado um up no orçamento, porque eu quero ver NAVIOS NESSA BODEGA!
❤ Crônicas Saxônicas, de Bernard Cornwell ❤
Os Senhores do Norte
A Canção da Espada
Terra em Chamas
Morte dos Reis
O Guerreiro Pagão
O Trono Vazio
Minha classificação para esse livro é de ❤ 6/6- "Obra-prima".
Os Senhores do Norte - Crônicas Saxônicas #3 Cornwell, Bernard. Editora Record, 2007, 354 p.