Tem que melhorar. O modo como tratamos uns aos outros e cuidamos uns dos outros, tem que melhorar de alguma forma.
Hannah Baker se matou. Era uma adolescente bonita, inteligente, cheia de vida e se matou, deixando pra trás 13 fitas cassete gravadas contando os motivos que a levaram a cometer tal ato. Cada uma das fitas é relacionada a uma pessoa em especial e todas elas ouviram sua narrativa, até que chegou às mãos de Clay Jensen. E a partir daí descobrimos o que aconteceu e o ponto de vista do garoto que é o protagonista desta história.
Hannah teve muitos problemas, passou por muita coisa. Um cyber bullying que a deixou com fama de vagabunda, a divulgação da foto de um momento íntimo com uma amiga, o peso da culpa por algo que poderia ter feito, a publicação de um poema constrangedor de sua autoria e algumas formas de violação. Para muitas pessoas que assistem, assistiram ou vão assistir a essa série, nenhuma dessas coisas seria motivo para alguém tirar a própria vida, mas para Hannah Baker foi. Tudo aquilo foi doloroso para ela e a bola de neve de acontecimentos chegou a um tamanho que não tinha mais como parar. Se você for analisar, o ciclo de problemas de Hannah começa na fita 1 e o resto são consequências daquele primeiro ato, daquelas fofocas, daquele cyber bullying, até que chega na situação que, enfim, desencadeia a dura decisão, na fita 12. Sim, porque na fita 13 tudo já estava decidido e o pedido de ajuda foi mais uma confirmação que ela precisava. 13 culpados. 13 pessoas que mataram Hannah Baker. Mas será que aqueles eram os verdadeiros culpados?
O tema central da série é corajoso e necessário: o bullying. Ele vitima crianças e jovens todos os dias no mundo todo. A visão da série é a visão das escolas americanas, bem diferente da nossa, mas entre nossos jovens também acontece e isso precisa ser falado, discutido, debatido abertamente. O mote central da trama não é o suicídio, embora toda a polêmica da crítica (especializada e de Facebook) tenha sido em cima disso e de como foi mostrado na série (concordo que a cena foi absurdamente pesada e me fez chorar litros, coisa que não faço à toa), mas o bullying e como os jovens, pais e educadores lidam com ele. E aqui, senhoras e senhores, descobri quem não matou Hannah Baker.
Vou sair do lugar comum de tudo o que já li a respeito da série e falar o que mais me chamou a atenção: todos ali eram vítimas. Você começa odiando o Justin, por exemplo, e termina sentindo uma pena desgraçada dele por levar uma vida de merda com uma mãe drogada que não liga pra ele e um padrasto (ou padrastos) cretino; muitas vezes sem ter o que comer ou o que vestir, acaba se juntando com o garoto rico da escola, Bryce, que fornece tudo o que ele precisa. E esse Bryce, FDP mor da série, ele também é culpado? Em todos os 13 episódios o vimos cometer diversos crimes como uso de drogas, tráfico, estupro, compra de bebida para menores, entre outras coisas e cadê os pais dele? Só os vimos em fotos. Aparentemente uma família perfeita, mas onde eles estavam? Eram pais presentes? Educaram seu filho? Temos Alex, criado de modo militar por seu pai policial à base do "não, senhor", "sim, senhor", sempre livrando o filho dos problemas junto à lei, protegendo, passando a mão na cabeça. Temos o pai militar de Jessica também, que gosta da família reunida à mesa sem celular na mão, dando graças antes de jantar, mas que não percebe que a própria filha está abusando do álcool (e está sempre viajando também). Os pais de Clay só começam a prestar atenção nele depois da tragédia da garota que se matou e começam a sufocá-lo do pior modo e do modo errado; os pais de Hannah estavam tão preocupados com sua loja que não viam sua filha cheia de problemas. A mãe de Zach que pensava ter o filho perfeito e não admitia que ele fosse falho e que tivesse feito algum mal para a garota. E temos os funcionários da escola, que não viam as coisas embaixo de seus narizes. Um poema constrangedor e claramente suicida é publicado numa revista de circulação interna e discutido em sala de aula e ninguém pensa que pode ser de alguém que precisa de ajuda; um bilhete suicida aparece numa aula de COMUNICAÇÃO SOCIAL e a professora não presta atenção a ele. Fotos circulam em celulares, listas de mão em mão, ofensas são escritas no banheiro e ninguém sabe, ninguém viu. Uma outra tragédia acontece e ninguém, mais uma vez, percebe a tempo. Quem será que matou Hannah Baker?
O alerta da série é bem claro: OLHEM PARA SEUS JOVENS! Conversem com eles, prestem atenção neles, olhem nos olhos deles. Ofereça ajuda! Um vislumbre de esperança pode ser visto no final porque um personagem olha para o outro, vê o outro e dá uma palavra amiga e isso pode salvar uma vida. Conversem, debatam o bullying, o suicídio, a depressão e os motivos que podem levar alguém a isso, mas abertamente. E, por favor, se coloque no lugar dos outros, jamais se use como exemplo para justificar nada, porque cada pessoa é diferente, vive diferente, sente diferente, tem experiências diferentes, vê o mundo de sua maneira. Tenha sensibilidade e compaixão. Não vou aqui falar de gatilhos, de polêmicas, se você deve ou não ver a série, se é boa ou ruim. Apresentei somente o tema central e como ela deve ser vista. É inegável que ela precisa ser vista com cautela por quem passa por problemas de depressão ou tem algum histórico de suicídio e tem que ser assistida com cuidado pelos jovens, pois é fácil romantizar ou glamourizar o suicídio da maneira como é mostrado, com a Hannah como uma espécie de anjo vingador, bagunçando a vida dos "culpados" e a justiça sendo feita; isso pode levar algumas pessoas a ter uma ideia errada sobre a questão. Há uma hype em cima da série também pelos motivos errados, com camisetas, bottons e outros itens sendo vendidos e não se trata de mais uma série adolescente para ser venerada, o assunto é sério.
Se eu recomendo? Assista, se você sentir vontade. Mas se eu posso te dar um conselho é, vá com a mente aberta para tirar suas próprias conclusões, não veja com tudo o que você leu por aí em mente. Esqueça tudo o que você já passou na vida: a série é sobre a Hannah, não sobre você e o que você fez ou teria feito. Se coloque no lugar dela, ou no lugar do Clay. Se coloque no lugar de um adolescente do Ensino Médio. Tenha empatia. Abra seu coração. E se sentir alguma coisa, se se sentir mal por qualquer motivo, pare de assistir, não insista, ok? Ah, e assista ao documentário no final, dura menos de meia hora e ajuda a entender o processo por trás da série.
Minha classificação para essa série é de ❤ 4/6- "Muito Boa".