This Is Us é uma série que estreou no final do ano passado e quebrou vários recordes já com o trailer. Sim, muita gente não deve conhecer, mas fez um grande sucesso lá fora. A premissa é simples: a série acompanha a vida de algumas pessoas que nasceram no mesmo dia, tipo Sense8, sabe, só que sem as surubas e a ficção científica. O negócio aqui é mais sensível. Jack e Rebecca Pearson estão esperando trigêmeos e eles resolvem nascer justamente no dia do aniversário do papai, seis semanas antes do previsto. Assim nascem Kevin e Kate mas seu terceiro irmão nasce morto. Depois de ouvir as sábias palavras do obstetra, Jack resolve adotar um bebê negro que foi levado ao hospital depois de ter sido deixado na porta do Corpo de Bombeiros naquele mesmo dia. E assim o casal acaba levando mesmo três bebês para casa. A série se divide entre o passado e o presente da família, seguindo Jack e sua esposa na criação de três crianças e depois três adolescentes e o trio adulto, com flashes ocasionais da história de Jack e Rebecca antes do casamento e de outros personagens que cruzam a história dos Pearson. No presente, a trama segue a batalha de Kate contra o peso; a crise de Kevin, um ator famoso por um sitcom bem besta e o drama de Randall ao encontrar seu pai biológico que o abandonou.
Fofa. Não tem outra palavra pra descrever essa série. Pode parecer que eu contei a história toda no parágrafo acima, mas não cheguei nem perto. O mais legal da série, na minha opinião, é exatamente a imprevisibilidade e a riqueza das tramas e subtramas; o roteiro foge totalmente do clichê, mesmo quando parece óbvio. Temas espinhosos como a gordofobia, o racismo e até a homofobia são retratados de forma real, correta, singela e natural. Eu estava preocupada com a questão da gordofobia, porque ninguém merece mais do mesmo quando se trata de personagens gordos: o personagem alívio cômico, a "gordinha" problemática com sua história triste/trágica ou, pior ainda, o emagrecimento e a transformação para conseguir o grande prêmio (um macho). O gordo engraçado está lá, mas com profundidade, os dramas estão lá, mas mostrados de forma mais natural e o macho não espera a grande transformação da "gordinha" pra engatar um romance. A questão do peso X saúde foge do óbvio também. O racismo segue o mesmo caminho: são mostrados dois lados, o da militância e o do negro que se "acomodou" entre os brancos, mesmo observando as injustiças do dia a dia, os olhares, as desconfianças. E tudo isso de forma sutil. E a questão LGBTQ eu nem vou comentar, só que sai mesmo de qualquer clichê e é tratado com a naturalidade que se espera.
A história é real. É uma história de vida, de família, de amor. Não tem mistério, não tem uma grande trama rocambolesca, não tem nada de sobrenatural. É só a história de uma família. Mas não deixa de ser extraordinária. Ela te toca por ser real, por ser fofa, pelas tramas que aparecem ali e que fazem você se identificar de alguma maneira... Faz você chorar. Minha nossa, um dos episódios me deixou de cara lavada! Mas tem seus momentos cômicos. A fotografia simples é deliciosa de ver, a trilha sonora, quase sempre com uma música ao final de um episódio, é linda, a direção é ótima e as atuações são muito boas, com destaque para Sterling K. Brown (Randall), Chrissy Metz (Kate) e Ron Cephas Jones (William). A maquiagem, o figurino e a direção de arte também merecem um destaque, porque retratar vários períodos de tempo não é mole e é assustador ver como deixam alguns personagens mais velhos ou mais novos. O elenco infantil também é de uma fofura sem limites (os atores que fazem o Randall criança e adolescente seguem a boa interpretação do adulto e dão a mesma intensidade ao personagem).
Por tudo isso a série teve merecidas 11 indicações ao Emmy desse ano, incluindo "Melhor Série Dramática", "Melhor Ator em Série Dramática" (Milo Ventimiglia e Sterling K. Brown), "Melhor Atriz Coadjuvante em Série Dramática" (Chrissy Metz), "Melhor Ator Coadjuvante em Série Dramática" (Ron Cephas Jones), "Melhor Ator Convidado em Série Dramática" (Brian Tyree Henry, Gerald McRaney, Denis O'Hare) e outros. Embora eu tenha quase certeza de que não leva nada por concorrer com outras produções de muito peso, como Westworld e The Crown, a série merece o reconhecimento. O único defeito que pude encontrar foi o final. Depois que você descobre uma certa informação no presente, você meio que fica esperando pra ver como aquilo aconteceu no passado e no excelente último episódio os produtores ficam te devendo. Você fica esperando uma torrente de emoções pior do que a do episódio "Memphis" (misericórdia, como chorei!) e no fim fica chateado porque a série não te entregou a dor que você estava esperando (soa meio masoquista, mas é real). Fica a sensação de que a série poderia ter tido mais 4 episódios e finalizar tudo com 22, como a maioria das séries de TV aberta, mas arrumaram um jeito de colocar mais duas temporadas de 18 episódios cada. O medo é esticarem demais algo que foi perfeito em uma temporada e acabar estragando. Mas a gente fica na torcida e na espera pra ver mais da família Pearson. A segunda temporada estreia em 26 de setembro e a primeira estreia aqui no Brasil dia 22 de agosto no canal Fox Life. Recomendo fortemente. Prepare a emoção.
Minha classificação para essa temporada é de ❤ 5/6- "Excelente".