"Parecia que o próprio sonho se realizara como sempre se realizam, a seu tempo e de maneira inesperada". (p. 359)
"Miss Brontë" se trata de uma ficção biográfica sobre uma renomada escritora da literatura inglesa: Charlotte Brontë.
Filha de um pastor - Patrick Brontë - quase cego e depressivo e tendo como único varão da família o irmão Branwell que, além de desempregado, entregou-se a bebida após se apaixonar perdidamente por uma mulher casada cujo marido era quem lhe pagava o salário como tutor. E, apesar do intelecto aguçado, seu ego era enorme e Charlotte acreditava que a culpa disto estava no tratamento indulgente na criação do irmão. Sabendo que não poderia contar com ele, ela buscava por alternativas para acrescentar o sustento da família. Contudo, sua tentativa em transformar sua casa em uma pequena escola, como internato, fracassara e a probabilidade de ela e as irmãs, Emily e Anne, terem de se separar para voltar ao trabalho como preceptoras novamente, não agradava a nenhuma delas. Queriam estar juntas. Mesmo que a vida em Haworth - um vilarejo na Inglaterra - fosse tão enfadonha. As reclusas irmãs Brontë não se importavam, pois se costumaram a recorrer à imaginação para que vida fosse menos fastidiosa, desde a infância criavam histórias de mundos imaginários cheios de emoção e aventura.
"Charlotte tinha pouco controle sobre o que emergia. Acreditava na supremacia da livre imaginação. (...); as ideias despontavam naturalmente". (p. 80)
Charlotte surge então com a ideia de que Emily deveria publicar as poesias que costuma escrever, mas com a recusa obstinada da irmã, muda de tática para convencê-la: propõem que as três publiquem juntas seus poemas. Emily aceita a proposta, porém com uma condição: deveriam publicar sob um pseudônimo e manter completo sigilo sobre a publicação. Nem mesmo seu pai e irmão, ou qualquer amigo por mais íntimo que fosse, poderia saber. Charlotte aceita a condição e é ela quem procura por um editor e, ao encontrar, elas tomam a decisão de utilizar uma parte do dinheiro que lhes fora deixado de herança pela tia para bancar a publicação. Os nomes escolhidos por elas como pseudônimo seriam masculinos: Curter (Charlotte), Acton (Anne) e Ellis (Emily) Bell (Brontë).
Apesar do fracasso nas vendas do livro - apenas dois exemplares foram vendidos -, as irmãs estavam contaminadas com a excitação de escrever e publicar e estavam decididas a escrever um romance desta vez. Foi quando Emily escreveu "O morro dos ventos uivantes", Anne escreveu "Agnes Gray" e Charlotte, "O professor". O romance de Emily e Anne foram publicados, mas nenhuma editora aceitara a produção de Charlotte. Ela mesma não estava muito satisfeita com o romance que parecia não exprimir paixão à altura do que fora sua inspiração: um professor de quando estudara em Bruxelas por quem se apaixonou. Mas uma nova ideia para uma trama surgia em sua mente e quando partiu para Manchester para acompanhar o pai em sua cirurgia para a catarata e por lá teve que permanecer durante um mês - pois era o tempo determinado pela médico para a recuparação de seu pai -, é que, então, deu vida a sua maior obra "Jane Eyre". Esta obra lhe trouxe grande sucesso, mas por um bom tempo teve de permanecer escondida sob seu pseudônimo pela promessa feita à irmã.
Poucos foram os homens que alcançaram o coração de Charlotte, como o tal professor de Bruxelas e o seu editor George Smith, mas somente um a amou intensamente. Por muito tempo Charlotte lutou contra os sentimentos de Arthur Nicholls, um pároco-assistente que trabalhava para seu pai. Um homem pobre e turrão, de um intelecto que não alcançava ao de sua amada, mas de bom coração. Charlotte, finalmente, se permitiria ser amada?
Amor, fracasso e sucesso, perdas, laços e conflitos familiares. Todos os elementos que compõem a vida de Charlotte Brontë estão presentes neste livro. A autora de "Miss Brontë" se ateve ao máximo na história biográfica para compor esta obra que nos permite permear na intimadade da família Brontë.
Para mim, que tenho um enorme apreço pelas clássicas obras das irmãs Brontë, foi simplesmente delicioso me sentir tão próxima das autoras. Quase que o livro todo me pareceu verossímil, em muitos momentos mesmo aquelas partes em que são claramente imaginadas pela autora me pareciam próximas de serem verdadeiras. Com exceção das últimas cem páginas em que, na minha opinião, foram tão romanceadas que aparentaram claramente falsas, e ocorreram algumas mudanças que me pareceram bruscas no comportamento de alguns personagens. Também não posso deixar de comentar que o excesso de informação - que eram, para mim, muitas vezes interessantes - em alguns momentos deixa a leitura um pouco cansativa. Percebe-se que a autora tentou incluir o máximo de informações possíveis na história, mas ainda assim boa parte da vida da autora não é mencionada no livro que inicia sua trama com Charlotte já adulta.
Ainda assim, admito que me emocionei ao me perder nas páginas de "Miss Brontë", e que Charlotte me surpreendeu por ter sido uma pessoa tão forte e ter enfrentado tanta tristeza e dificuldade.
Adorei reconhecer as autoras e suas histórias no romances que escreveram, e lamento ainda não ter lido outras obras de Charlotte, além de "Jane Eyre" que eu amo tanto. Espero que "Villette" e "Shirley" sejam publicadas aqui no Brasil. Mas enquanto isto, vou à caça por estas obras em sebos ou por edições estrangeiras.
Enfim, eu gostei bastante e recomendo!
Minha classificação para esse livro é de ❤ 5/6- "Excelente".
Miss Bronte. Gael, Juliet. Editora Laurosse, 2011, 400 p.