Escravas da Coragem foi uma leitura surpreendente! Apesar de ter lido inúmeras resenhas elogiando o livro, eu esperava não ser cativada tão imediatamente pela história. Assim que comecei a leitura e os fatos foram se sucedendo, eu não conseguia parar de ler. Queria mais, mais e mais. Precisava desesperadamente saber o que aconteceria com aquela família de escravos e a pequenina branca. Peguei-me chorando em diversas passagens que de tão ternas, me comoveram.
O livro conta a história de duas mulheres vibrantes e corajosas, Belle e Lavinia. Contado em primeira pessoa, intercalado entre as duas personagens temos um panorama do que acontece na fazenda, quem são as pessoas que vivem ali, o que fazem, seus sonhos, medos, desafetos e maldades. Logo no início, conhecemos a fazenda e seus moradores pelos olhos de Lavinia, uma menina branca, adoentada e ferida emocionalmente que foi trazida como escrava para trabalhar na cozinha. Incumbida de cuidar da criança, Belle, escrava mestiça, se aborrece a princípio, pois tem muitos problemas na Casa Grande para resolver como ter cuidado com dona Marta e com seu filho, Marshall, que a detestam, além de ter que cozinhar para todos. Mas seu coração enorme não resiste e ela acaba acolhendo Lavinia como sua própria filha, apesar da menina ser branca, sabe que a cor é um mero detalhe.
O contato com Mama Mae, Papa George, as gêmeas, Dory e Ben, além é claro de Belle, aos poucos vai conquistando o coração da pequenina Abinia, como mais tarde é carinhosamente chamada pela família de escravos. A garota tem tanto amor para dar que não se recusa a cuidar de Dona Marta, a senhora da casa, mesmo ela estando meio louca e doente. Também é sempre carinhosa e preocupada com Marshall, o filho mais velho do capitão e que sempre faz maldade com os escravos na fazenda. Sua inocência e ingenuidade é tão grande que ela não consegue perceber o clima tenso que existe entre os moradores da Casa Grande e os negros da cozinha que possuem algumas regalias, assim como não entende o motivo pelo qual, os negros da senzala são tratados tão mal. Para a menina, a cor não significa nada e seu amor pela família que a acolheu só cresce conforme o passar dos anos.
Kathleen Grissom construiu uma história sensível e delicada sobre a escravidão, onde os negros eram tratados com crueldade e considerados inferiores aos brancos, sendo muitas vezes agredidos, mutilados e violentados sem ter ninguém para defendê-los da ira do capataz ou do senhor da fazenda. Lavinia não faz distinção de cor - na realidade, ela gostaria de ser negra como a família que a acolheu e mesmo quando se torna moça, seu sentimento não modifica, pelo contrário, ela só deseja cuidar deles, dar-lhes o melhor. É um contraste vivo, onde a cor da pele não define quem você é - bom ou mau, e sim, seu caráter.
Os personagens foram ricamente construídos, moldados na coragem, audácia, bondade e humildade. E em uma força de caráter que mesmo sendo vítimas de toda maldade, encontram forças uns nos outros e coragem para vencer os obstáculos. Os cenários também foram bem detalhados e nos convidam a entrar e viver naquela história. A cozinha de Belle se tornou tão familiar para mim que eu me sentia dentro dela, com seus cheiros, cores e sabores. Até mesmo os vilões tiveram algo a acrescentar a história, apesar de suas maldades, eu torcia por uma redenção que eles não mereciam.
Sei que algum dia relerei esse livro, pois já estou com uma saudade intensa dos personagens. O final foi tão triste que eu não tinha nem mais lágrimas para chorar. Sinceramente, eu esperava mais respostas do que aconteceu com alguns personagens, ficou meio vago, não sendo o final perfeito que a gente espera de um romance, não depois de tanto sofrimento. Mas foi um final que aqueceu minha alma! Leia, leia esse livro. Super recomendado!
Minha classificação para esse livro é de ❤ 5/6- "Excelente".
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Escravas da Coragem. Grissom, Kathleen. Editora Arqueiro, 2014, 331 p.