- É possível. Embora muitas pessoas digam que não tenho coração. / - Por que diriam isso? / - Porque me conhecem bem".
Olá! Olha nós aqui outra vez depois de um hiato de quase um mês em falhas técnicas! Mas agora estamos de volta a todo o vapor, e esse mês serviu para uma coisa: botar as leituras em dia. Hoje trago para vocês o lançamento da Intrínseca: "Grey", a história de "Cinquenta Tons de Cinza" mostrada pelos olhos do Christian. Não, você não leu errado. É a mesma história contada pelo ponto de vista do Grey. É, eu sei. Mas vamos lá.
Vocês já conhecem a história, certo? Preciso fazer resumo? Acho que não. Aqui temos a mesma fucking história que lemos no primeiro livro da trilogia narrada em primeira pessoa pelo Christian. SIM, estamos dentro da cabeça doentia do CEO, senhoras e senhores. Temos relatos de como ele se interessou à primeira vista por Anastasia Steele quando ela caiu em sua sala (pois é, é ainda mais difícil de engolir quando ele conta. A pessoa cai na sua frente, PLOFT, me apaixonei) vislumbres do seu passado misterioso (aqui preciso abrir um parêntese: estamos falando do primeiro livro. A trama segue os eventos de "Cinquenta Tons de Cinza", não dos seguintes. E eu só li o primeiro, então, o foco será nele) e mais detalhes de sua vida pessoal (?). E como ele ficou obcecado pela Ana num estilo maníaco maturidade 15 anos. E seus pensamentos mais íntimos. Tudo muito desnecessário. Mas vamos tentar fazer uma resenha profissional aqui.
É, não tem como não dizer isso, o livro é desnecessário. Não há grandes revelações ou eventos que tenhamos sentido falta no primeiro livro. Achei, inclusive, que teríamos mais fatos de seu passado turbulento, o que teria sido interessante para se criar uma empatia com o personagem, mas isso só ocorreu em rápidos flash backs em forma de pesadelos que não ajudaram em nada a simpatizar com o maluquinho milionário masoquista. Nada do que li me justificou suas ações e seu jeito de ser, sorry, Christian. Aliás, o livro conseguiu destruir qualquer possibilidade de eu vir a gostar do Christian, pois ele é mostrado extremamente vulnerável, machista, vulgar e chato. Sério, se no primeiro livro ele parece um stalker manipulador maníaco, nesse ele parece um adolescente de 14 anos com os hormônios em fúria, inseguro e ciumento ao extremo, só que cheio da grana. Seu trabalho só aparece em segundo plano, e mesmo assim em todo fucking segundo ele pensa na Ana, que consegue o feito de parecer ainda mais sem sal: uma garota monossilábica que só sabe morder os lábios, revirar os olhos e parecer esquisita e recatada, mas que para o Grey é um poço de sensualidade. Lógica zero nessa parte. Em CTdC ela até parece mais interessante (imaginem só!). A diferença entre ela e uma boneca inflável é que ela respira. E goza. Goza o tempo todo. É um festival de orgasmos, Brasil!
Sobre a escrita. Eu sou uma pessoa otimista e realmente pensei que depois de três livros best sellers, a autora teria aprendido uma ou duas coisinhas sobre escrita criativa... Que nada! A escrita de James, aparentemente, piorou nesse quarto livro. A narração de Grey é extremamente vulgar, e é realmente preocupante pensar que a autora acha que a mente dos homens funciona dessa maneira. Pérolas da literatura como "seu suspiro foi como música para o meu pau", "sua voz atingiu diretamente minha virilha" são vistas em quase todas as páginas. (juro pra vocês que tem essas frases! Pois é). Menções eternas ao seu pênis, aliás, sua parte preferida do próprio corpo (jurooooo! Ele ama aquele troço!) aparecem página sim, página não, e nesse linguajar bem singelo: pau pra lá e pau pra cá. Ao mesmo tempo ele diz que a mulher tem cheiro de maçãs frescas no outono, (QUÊ???) e isso vindo de um cara que tem romantismo a nível de "eu não faço amor, eu fodo com força". Mais uma da série lógica zero. A narrativa é muito entediante, e nas primeiras páginas me deu sono de verdade, coisa que nunca tinha acontecido comigo! Os pensamentos dentro dos pensamentos do Grey são quase tão irritantes quanto a deusa interior da Anastasia, e ele também tem meio que um alter ego que é o "babaca no espelho". Assustadora essa visão de um homem feito, milionário e poderoso de si mesmo. O tratamento com o doutor Flynn não está dando muito certo, não é mesmo? Mas, voltando aos pensamentos, quase sempre Grey tem um embate consigo mesmo, um diálogo, como se tivesse um outro Grey lhe dizendo o que fazer ou pensar num festival de frases em itálico do tipo " pare com isso, Grey!" e isso faz a leitura ficar cansativa, além de ser esquisito à beça, pois ele acaba passando muito tempo descrevendo as coisas e o que pensa sobre elas. Um exemplo é a cena da entrevista, logo no começo, que dura quase um capítulo inteiro, quase toda de pensamentos do Christian sobre a Ana. O modo dele se portar diante dela, a reverência, como se ela fosse o ser humano mais interessante, fascinante, a mulher mais gostosa da face da Terra causa estranhamento, e ele realmente parece um moleque de 14 anos que fica excitado ao ver um peitinho na TV (fala sério, Grey, vamos crescer! Tá velho pra isso!). Outra coisa que incomoda na escrita e na leitura são as transcrições fiéis de diálogos, e-mails, mensagens e do famigerado contrato. Na boa, quem leu esse livro leu o primeiro, partindo dessa premissa, seria desnecessário transcrever tudo de novo ao pé da letra. Fez o livro ficar grande (bem maior do que CTdC), mas completamente vazio de conteúdo.
Em resumo, o livro é ruim, muito ruim. Não tenho nada para falar de bom dele, desculpa, Brasil. Como eu não tinha gostado do primeiro, pedi a ajuda de uma amiga que amou a trilogia para ler comigo e dar suas impressões de fã, até porque ela estava doida para lê-lo: ela terminou primeiro que eu e achou tão ruim quanto eu, inclusive sentiu sono também no começo e mais pro meio já se descrevia como em uma batalha contra o Grey em níveis gameofthronísticos. Uma outra amiga, também fã, odiou o livro e não recomenda, segundo suas palavras, o livro mais vulgar que ela já leu. Fiz isso para não me acusarem de ser implicante por não ter gostado do primeiro, e nem do filme. A leitura é, sim, cansativa, vulgar e o livro em si é desnecessário. Perda de um tempo precioso que poderia ter sido melhor gasto lendo outras coisas mais interessantes e com mais conteúdo. Dessa vez não dá pra amenizar, e vocês sabem que sou sincera: foi a pior leitura do ano, e não recomendo nem pro meu pior inimigo. Nem para as fãs ardorosas do Senhor Grey.
P. S.: Meus agradecimentos especiais à Ana Paula Boller, que entrou no desafio #KarineLendoGrey comigo, fez esse esforço e foi me dando suas impressões de fã, e à Bianca Dieke, pelas conversas, e por me mostrar que não apenas uma, mas duas fãs de Cinquenta Tons de Cinza não gostaram de Grey. Não pode ser coincidência. E também a todos os amigos que acompanharam minha luta no Facebook, rindo das minhas opiniões, chocados com minha coragem, pela força na leitura. Vocês tornaram tudo mais divertido.
Minha classificação para esse livro é de ❤ 1/6- "Ruim".
Grey - Cinquenta Tons de Cinza Pelos Olhos de Christian, James, E. L.. Editora Intrínseca, 2015, 524 p.