No outono de 2015 a BBC lançou a série The Last Kingdom baseada nos livros do autor inglês Bernard Cornwell, "As Crônicas Saxônicas", que conta o surgimento da Inglaterra, a unificação do país depois das invasões vikings que tomaram conta de todos os reinos saxões. Sob o ponto de vista do personagem fictício Uhtred de Bebbanburg, é apresentada a história do rei Alfredo, único dos monarcas ingleses a receber a honraria do epíteto "o Grande" e de como ele e seus descendentes expulsaram os invasores e ajudaram a criar o país como o conhecemos hoje. Uhtred é um saxão do reino da Nortúmbria que foi capturado pelo earl Ragnar em uma batalha ainda criança e criado pela família do mesmo, tornando-se como um filho para ele e mais dinamarquês e pagão do que saxão. A primeira temporada foi baseada nos dois primeiros livros das "Crônicas", "O Último Reino" (eu fiz uma resenha do livro AQUI e a Júlia também fez AQUI) e "O Cavaleiro da Morte" (resenha minha AQUI) e teve oito episódios, sendo renovada para a segunda temporada depois de algumas negociações.
Apesar de ser uma série da BBC, o orçamento foi baixo, e percebe-se que os produtores tentaram fazer o melhor com o que tinham, Apesar disso, as batalhas foram bem filmadas e dirigidas e os atores se esforçaram. Destaque para David Dawson como Alfredo, impecável, você olha pra ele e pensa num ser humano chato pra cacete. Apesar das reclamações dos fãs da série de livros, achei que Alexander Dreymon foi bem no papel do protagonista (sim, ele tem cara de adolescente, mas, veja só, o Uhtred tem VINTE FUCKING ANOS NESSE PERÍODO, queriam que ele tivesse uma barba quilométrica e a cara cheia de rugas e cicatrizes de batalha? Me poupe); inclusive chorei junto com ele em uma das cenas, bem forte por sinal. A história é bem amarrada, tem um arco central e não enrola muito, terminando em seu oitavo episódio. Muita coisa foi cortada, como é de se imaginar, visto que adaptaram dois livros de tamanho médio em apenas oito episódios, mas tudo foi amarrado de modo a fazer sentido. Somente o primeiro livro pega uma grande parte da infância do Uhtred e só as partes mais importantes foram poupadas; alguns personagens fizeram falta, como o guerreiro Steapa, que foi substituído por Leofric numa situação importante e o padre Pyrlig, que eu queria muito conhecer, substituído por Beocca na batalha final (fez sentido nenhum, porque Beocca tá longe de ser um padre guerreiro, mas ok, entendemos a economia de elenco). Toda uma parte em que Uhtred faz o viking e sai navegando pelo litoral da Inglaterra virou uma viagem a cavalo e uma cena de perseguição a barco foi substituída por correria nos pântanos e isso tudo foi reflexo do baixo orçamento, mas mesmo assim não deixou de fazer sentido na história (fez muita falta pra quem leu os livros, ficou aquele gostinho de "poxa vida, queria tanto ver o Uhtred se sentindo o viking com os cabelos ao vento na proa do Fyrdraca, o navio que ele roubou pegou emprestado da frota de Alfredo pra fazer saques na Cornualha...) Falando em coisas que fizeram falta, ainda não me conformei em não ter a cena de Alfredo apanhando de enguia por ter deixado os pãezinhos queimarem.
Alfredo, Odda, Leofric, Uhtred e Beocca |
Pra quem gosta de série histórica estilo Vikings essa é uma boa pedida. Inclusive, pra quem acompanha a saga de Ragnar Lothbrok, podemos ver alguns paralelos na história: na série da BBC podemos ver alguns personagens da quarta temporada de Vikings como Ubba, um dos filhos de Ragnar; Alfredo e Aethelred (o rei no começo de TLK é o irmão mais velho de Alfred e podemos ver os dois ainda crianças na quarta temporada). Um dos filhos de Bjorn e Torvi foi chamado de Guthrum e esse é o nome de um importante personagem das Crônicas Saxônicas, então já podemos ficar de olho no moleque. Nos livros podemos ver ainda Ivar, o Sem Ossos e Halfdan (Hvitserk em Vikings), ambos filhos de Ragnar e também ouvimos falar muito de Lindisfarne ou Lindisfarena, uma ilha sagrada na Nortúmbria que foi invadida pelos vikings; exatamente onde Ragnar aportou primeiro em seus ataques e onde fez de refém o monge Athelstan. Pra quem curte as duas séries é um prato cheio ver essas referências (atenção, porém: o earl Ragnar que cria o Uhtred não é o Lothbrok). Embora a série tenha saído há dois anos (tô devendo essa resenha desde então), quem estiver se sentindo órfão de Vikings pode dar uma chance que não vai se arrepender, tem muita machadada e shieldwall pra dinamarquês nenhum botar defeito. São poucos episódios, dá pra maratonar sem medo, e a boa notícia é: vendo o potencial da série, a Netflix se interessou e coproduziu junto com a BBC a segunda temporada, que estreia nessa primavera (outono aqui, talvez entre março e abril). Ainda dá tempo de conferir.
Uhtred sendo divo pra te convencer a assistir |
Minha classificação para essa série é de ❤ 4/6- "Muito boa".