- Quem é você? / Enfiei a mão na fenda de minha sobressaia, e meus dedos encontraram a madeira dura do arco da besta. / - Vingança - disse com delicadeza".
Pensa aqui comigo. O nome da série de livros é "O Clã das Freiras Assassinas". Freiras assassinas, cara! Mulheres religiosas treinadas para matar! Tem como isso dar errado? A jovem Ismae nasceu com uma marca, onde o veneno que sua mãe usou para abortá-la a manchou, e isso a marcou como filha do deus da Morte, ou Saint Mortain, no sincretismo religioso da Bretanha da época. Ela é salva de um casamento arranjado com um ogro horroroso e vai parar no convento das tais freiras que servem a esse deus, a própria Morte e lá aprende todos os truques de como matar um homem. Sério, não tem como isso dar errado. Mas dá.
O livro de Robin LaFevers se passa na Bretanha em algum lugar do século 17 em um período histórico que com certeza foi tão relevante que você nem estudou na escola. Temos duques, duquesas, guerra contra a França, um Sacro Imperador Romano, um príncipe inglês, mas tudo isso passou batido por mim, de verdade. E nesse meio temos essa crença em deuses antigos mascarada como santos da Igreja Católica: Saint Mortain (a própria Morte), Saint Mer (o Mar), deusas do Amor, da Terra, etc, todos maquiados de santos para que o povo não fosse acusado de herege. Lembra alguma coisa do nosso Brasilzão? Isso foi interessante, mas como não foi real, ficou confuso no meio da suposta ficção histórica. Como tudo se passa numa corte de uma duquesa exilada, vemos muitas intrigas, muita traição, muitos jogos de poder e tudo isso é muito interessante, embora tenha estragado as minhas expectativas, que eram ver uma freira botando pra fuder e matando todo mundo com espada, besta, veneno, seduzindo geral e matando. Além do mais, tudo meio que se perde naquilo que, pra mim, estraga toda e qualquer boa história: o famigerado romance.
Deite comigo (...) Dizem que é o modo mais glorioso de morrer, deitando-se com uma serva da Morte".
Tá, não é lá um romance irritante, graças a Saint Mortain e ele funciona mais como pano de fundo na história. Mas ele foi extremamente previsível e deixou a mocinha molenga demais, tirando toda a "badasseria" que eu achei que ela teria. Ismae é só uma noviça, mas achei que ela seria mais fodona e menos insegura. Ela tenta ser e se mostrar forte, mas dá pra perceber nitidamente que a bicha ainda não é isso tudo, e eu ACHEI QUE ELA SERIA! A parte mais legal da história pra mim foram os questionamentos de Ismae quanto ao seu convento. Ela tem plena convicção de seu deus e da vontade dele, mas começa a questionar os métodos do convento e os desígnios de sua abadessa porque, afinal de contas, templos e conventos são feitos e dirigidos por mãos humanas e podem ser falhos e contaminados por ideologias e até mesmo traições. Essa foi a parte mais interessante de toda a trama e o modo como Ismae lidou com isso no final foi lindo e surpreendente, inclusive em relação ao romance. Sério, eu não sou chata assim, só não tenho mais paciência pra velha fórmula do casal que se detesta, mas a mocinha sente uma pequena atração, embora não saiba bem o que é (a larissinha quase pula quando o bofe toca nela, mas ela não sabe o que tá sentindo e ainda tenta negar, ah, FAÇA-ME O FAVOR, QUEM AGUENTA ISSO EM PLENO 2017, BICHO?) e no fim o bofe começa a se mostrar interessado também e a mocinha amolece e, bem, já sabemos onde isso vai dar. Como eu disse antes, ainda bem que Ismae não é uma mocinha chata e Durval é um homão da porra e o final foi surpreendente pra mim, senão não daria pra salvar.
O livro não é ruim, é bom, só não conseguiu me cativar. Pra quem gosta de intrigas palacianas, politicagem e traições é uma boa pedida (eu já sabia quem era o traidor há muito tempo, chupa Durval!), mas não achei envolvente, não ficava com aquela famosa vontade de ler mais um capítulo e enrolei bastante pra ler o resto. Pelo que fiquei sabendo, a série não segue uma continuação, mas a visão de outra pessoa nos próximos volumes, e isso me assusta um pouco. A única saga que li nesse formato foi Sevenwaters, de Juliet Marillier, e ela é um caso à parte, porque essa mulher é Deus escrevendo e seus livros são a Bíblia, e ela consegue fazer com que quatro protagonistas diferentes contando cada uma a sua história sejam igualmente envolventes e maravilhosas e isso pra mim é bruxaria. Talvez eu dê uma chance ao segundo volume porque sei que vai focar em um dos personagens que eu mais gostei no primeiro e a trama em si parece mais interessante por mostrar outro ponto de vista. Mas você deveria dar uma chance ao primeiro. Se você for olhar as resenhas no Skoob você vai ver que muita gente achou maravilhas desse livro, então talvez eu seja doida e tenha lido errado. Sei lá, dá uma chance. Mas só que não tem freira assassina não, tá, no caso, isso aí foi propagando enganosa mesmo, desculpa falar. #paz
❤ O Clã das Freiras Assassinas ❤
Perdão Mortal
Divina Vingança
Amor Letal
Minha classificação para esse livro é de ❤ 3/6- "Bom".
Perdão Mortal - O Clã das Freiras Assassinas #1. LaFevers, Robin. V&R Editoras, 2015, 408 p.