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{Livros & Filmes} "Meu Namorado é um Zumbi" (2013) / "Sangue Quente", de Isaac Marion

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Foi assim que o mundo foi... exumado.
Sempre houve uma estranha atração que me fazia ter vontade de ver esse filme, nunca soube o porque. Às vezes, zapeando alegremente pela TV o encontrava, mas nunca tive coragem de ver. Por que? OLHA SÓ PRA ESSE TÍTULO ESCROTO! Sério, isso deve ser muito adolescente trash, cara, algo que veio na onda de "Crepúsculo", deve ser horrível, romancezinho sobrenatural para mocinhas desesperadas (nada contra Crepúsculo, inclusive amo. ME JULGUE). Até que esses dias, resolvi parar no canal e ver qual é a dessa bodega. Meu... MEU! ESSE FILME É UM HINOOOOO!

Certo, esqueça o título idiota, pra começar. Vamos chamá-lo pelo nome original: Warm Bodies. Já ajuda. Ok, R (só isso mesmo) é um zumbi adolescente que se relaciona com uma humana num mundo pós apocalipse zumbi. Mas a história é mais do que isso. R narra o filme e ele tem pensamentos filosóficos a respeito de tudo o que aconteceu ao mundo, a seus próprios sentimentos e de tudo o que está acontecendo a seu redor. E, pelo amor de Deus, eles não são namorados! Ele sente uma espécie de estranha atração por ela quando a conhece, e ao comer o cérebro do namorado da moça começa a ter flashes da vida dele com ela e sente o impulso de protegê-la do ataque de seus companheiros zumbis e a mantém segura em sua casa-avião no aeroporto da cidade. E ali eles vão se conhecendo, ela percebe que ele é diferente, aparenta ser mais consciente do que os outros, mais apegado à vida que deixou para trás, com sua coleção de coisas, seu gosto para música e discos de vinil e sua capacidade melhor de fala. E essa relação de proteção e amizade acaba se tornando algo mais profundo que abala as estruturas do mundo conhecido, pois os outros zumbis, ao ver seu exemplo, começam também a mudar aos poucos e os terríveis Esqueléticos, zumbis que estão há mais tempo nessa e perderam qualquer traço de humanidade, se revoltam. 

A mensagem final do filme foi tão linda que me doeu: o amor cura. Simples assim. Não minto, adoro assistir Rick e cia descendo o cacete nos zumbis de The Walking Dead, explodindo cabeças e tal, mas nesse filme aqui os mortos só precisavam de amor, só precisavam se lembrar de como era ser vivo para voltar à vida. Utópico? Talvez. Bonitinho demais? Pode ser. Mas foi um belo de um desfecho. Esse foi um dos motivos que me fez amar o filme. Claro que o fato de o protagonista ser um gatinho também ajudou muito, PELO AMOR DE JEOVÁ, COMO CONSEGUIRAM DEIXAR O NICHOLAS HOULT BONITO ATÉ COMO MORTO VIVO? O fato é que aprendi uma lição com esse filme: não devemos nos deixar levar pelas traduções escrotas que os brasileiros fazem dos nomes dos filmes, devemos dar uma chance mesmo que pareça escroto, porque pode ser que encontremos um HINO DESSES escondido por aí.

Imagem do R para apreciação
P. S.: Apenas pense na beleza da cena de duas garotas maquiando um zumbi ao som de Pretty Woman, tema de "Uma Linda Mulher". Épico, apenas.

Aí ao comentar sobre o filme e como tinha gostado lá no meu Facebook, uma amiga me disse que o livro era maravilhoso e ainda melhor e que se chamava "Sangue Quente". Claro que fui atrás. Foi um estranho caso de filme primeiro, livro depois, não é muito normal pra mim, mas mesmo assim fui atrás. E ela tinha razão.

Ele está tentando manter todo mundo vivo, e isso é algo bom. É a fundação. Mas como Julie disse, tem que haver algo mais profundo que isso. A terra embaixo da fundação. Sem um chão firme por baixo, tudo entrará em colapso e cairá, uma, duas, três vezes, não importa quantas camadas de tijolos se coloque. É nisso que estou interessado. A terra por baixo dos tijolos.
Indo na contramão do que se espera na era pós-Crepúsculo, esse aqui é um livro escrito por um homem e quem narra a história em primeira pessoa é um homem. Eu sempre digo aqui que eu adoro esse tipo de história, porque foge tanto do senso comum (salve Uhtred!) e nos dá, pra variar, uma visão masculina de uma história, nesse caso aqui, ainda melhor, a visão masculina de uma história de amor! E fugindo ainda mais do que se espera, R aqui não é um adolescente, como aparenta no filme, mas um jovem adulto. E Julie não é nenhuma Bela Swan, ela é uma garota badass fodona que bebe, fala palavrão e já fez de um tudo pra ganhar uns trocados na vida. Pois é. Como vocês já sabem o cerne da trama, vamos falar das diferenças.

R no livro não aparenta ser um adolescente ou ter vinte e poucos anos, como a Nora sugere no filme, mas aparenta ter entre 20 e 30 anos, um pouco mais velho, o que fica ainda mais claro por suas roupas: camisa e calça de bom tecido e caimento, gravata de seda vermelha e um cabelo comprido preso num rabo de cavalo. Bem mais chique do que o visual garotinho do filme, né não? Julie também é mais rebelde. Nora, sua amiga, é etíope, tem a pele negra e os cabelos crespos; M, o zumbi amigo de R também é totalmente o oposto do filme, sendo alto, forte e careca, quase um lutador de MMA de quase 2m de altura. Há também uma diferença significativa quanto a Perry, o namorado de Julie. Ele tem uma participação maior no livro, visitando ainda mais os sonhos e pensamentos de R mesmo depois que todos os pedacinhos de seu cérebro já acabaram de ser ingeridos. Ele se torna uma espécie de guia espiritual para R e sua personalidade está longe de ser apenas um babaca, como o filme sugeria: ele era intenso e extremamente depressivo, via o mundo onde vivia com melancolia e desesperança e meio que torcia para que a morte chegasse logo para ele. De algum modo, seu espírito, ou melhor, vamos colocar assim, sua consciência viva dentro de R o impulsiona na direção da mudança e assim ele encontra sua paz. Ao contrário do General Grigio, cuja falta de esperança o levou a seu fim.

O livro é de uma profundidade incrível, enriquecido pelos pensamentos filosóficos de R a respeito da vida e da morte, do mundo como era antes da praga e do que ele se tornou depois e também dos questionamentos de Julie e Perry. É um livro de desesperança e desespero, de tons melancólicos e nostálgicos e você quase não consegue ver a luz naquele mundo distópico horrível, e acredito que tenha sido o livro pós-apocalíptico mais pesado que já li nesse sentido; é quase sufocante toda a situação do mundo e até as páginas finais você não consegue ver saída, só trevas. Bem depressivo. E a ironia de tudo é que os zumbis são os sonhadores. É na hora do desespero que M pergunta "e aí, o que vamos fazer? Estamos aqui fora, estamos mudando, queremos fazer alguma coisa!" (não com todas essas palavras, claro, mas algo assim). É R que sonha e decide e lidera a todos rumo a alguma coisa. A mudança de R é mostrada mais gradual, pois muita coisa foi cortada na adaptação, como a ótima cena em que ele enche a cara com as garotas num bar e sente vontade de fazer xixi (sim, o fluido sai, porque o líquido entrou, mas o negocinho não funciona, né, kirido) e a emocionante cena onde ele chora pela primeira vez. Se o filme é um hino, o livro é um HINÃO DA PORRA. O final ficou um pouco diferente mas o do filme não deixou margem pra continuação; o do livro deixou uma pontinha curiosa a respeito da mudança do R e infelizmente o segundo volume, The Burning World, não foi trazido para o Brasil, então vou ter que ler em inglês mesmo.

Então, vamos deixar o preconceito de lado e vamos ler Sangue Quente que é um livro muito interessante e depois vá lá na Netflix e assista Warm Bodies porque vale a pena. Na pior das hipóteses você vai só perder pouco mais de 1h e meia da sua vida com um zumbi gatinho. Pra mim vale.


Minha classificação para esse filme é de  4/6- "Muito Bom".
Veja a cotação do filme no IMDb e a opinião de outros espectadores.

Minha classificação para esse livro é de  5/6- "Excelente".
Veja a cotação do livro no SKOOB e a opinião de outros leitores.

Sangue Quente Marion, Isaac Editora LeYa Brasil, 2011, 256 p.



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