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"Ozob - Protocolo Molotov" de Leonel Caldela e Deive Pazos

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“Se você não para de beber, não tem dor de cabeça.”
Gente... QUE LIVRÃO DA PORRA.

Então. Eu tinha lido esse livro alguns meses atrás e fiquei procrastinando a produção dessa resenha porque nunca sabia o que dizer. Sabe aquele tapa na cara? Sabe aquele momento que você descobre que o mundo em que você vive é um grande lixão abarrotado de grandes sacos de bosta? Esse livro te joga isso na cara.

Mas antes, uma pequena explicação.

Primeiro de tudo, preciso falar sobre o site Jovem Nerd (que eu acompanho todos os dias e to puxando o saco mesmo porque essa galera já me ajudou muito em vários momentos da minha vida sem nem saber, vlw flw). O site tem um podcast semanal chamado Nerdcast, e nesse podcast eles lançam de tempos em tempos episódios de aventuras de RPG (não to falando daquele tratamento postural). Pelo que eu sei, o personagem do Ozob foi criado há muito tempo atrás pelo Azaghal (um dos donos do site), mas se tornou famoso na segunda trilogia de RPG do Nerdcast. Então, depois dessa fama toda, eles resolveram fazer um livro contando a história desse personagem maluco.

Sim, você está lendo certo. Estou falando de um livro brasileiro, de fantasia, com muita violência, personagens maravilhosos, escrita excelente e que não é cobrado no Enem, então não precisa ter ranço dele.

“Ele era um pós-humano em forma de palhaço, fora destinado à destruição assim que nascera, deformara sua coluna e perdera seu nariz, mas estava tudo bem. Ele era aquilo e aquilo era bom o bastante.”
Ozob é um replicante palhaço, calvo, albino, com uma granada no lugar do nariz. Vivendo um dia de cada vez em uma Nova York pós-apocalíptica, Ozob acredita estar vivendo extremamente bem, com uma intensidade alucinante, após ter se livrado de um passado conturbado, até que conhece os War Rodies, com quem se envolve e acaba se encontrando em uma luta contra o sistema. Completamente sem querer, ele acaba dando significado a uma vida que ele parecia ferrenhamente empenhado em desperdiçar. O livro não só conta como essa aliança é formada, mas também de como Ozob foi criado para trabalho pesado em mineração, ele cresceu ao redor de uma família completamente problemática (se você acha que a sua família tem treta...) e se via sem saída de uma vida com dias contados.

 “O mundo estava cheio de gente boa, ruim, estranha, com suas próprias jornadas. Era uma pena que elas caíssem como moscas depois da passagem de Ozob.”
Espero que não tenham spoilers nessa descrição acima, porque se não me engano, tudo isso é descrito nos episódios de RPG. Além disso, se você não curte podcasts, nem jogos de RPG, não tem problema, porque o livro é algo a parte e não conhecer o podcast não vai influenciar de forma negativa sua experiência de leitura. Mas você vai perder algumas referências...

“Tudo que você mistura com vodca fica mais fraco que vodca.”
Bom, agora que eu já falei (até demais) da sinopse do livro, eu quero tomar um pouco do tempo de vocês pra enaltecer essa obra da literatura contemporânea brasileira.

Primeiro de tudo, vamos enaltecer o senhor Leonel Caldela.

Pra quem não sabe, eu fiz uma resenha de um outro livro do autor um tempo atrás, chamado O Código Élfico. Já tinha me apaixonado pela escrita, criação de mundo, trama bem planejada, personagens, a porra toda, logo ali. Quando soube que o Leonel tinha escrito o livro, fiquei ainda mais na vontade de ler. Mas depois, descobri que não só o cara escreveu o livro em parceria com o Azaghal, como também os caras fizeram a mágica de escrever um livro maravilhoso desses, de 420 páginas, com essa qualidade toda em um MÊS. Assim, gente, eu escrevo (tento), e só pra sair um capítulo de mim já é um parto. Eu fiquei realmente impressionada com isso.

 “Existem quatro necessidades humanas básicas. Comida, sono, sexo e vingança.”
Além disso, eu quero enaltecer aqui uma das personagens que eu mais amei do livro. Mama Guzzo. Gente, temos aqui uma personagem trans, que sofreu muito. Sofreu bastante. Sofreu pra caralho. Se tem uma coisa que ela fez, foi sofrer. É uma personagem bem escrita, que eu adoraria que fosse minha amiga e que assim... eu nem tenho muito o que dizer. Só sei que amei. Quero muito uma action figure da Guzzo.


“– Você é uma boa irmã, Guzzo. Ela parou e sorriu para si mesma. Não precisava que ninguém lhe dissesse que era boa; era a única pessoa decente na família.
Mas Ozob era o único na casa que a tratava como o que era: Mulher.”

O livro foi escrito numa imersão da cultura punk e da cultura dos anos 80, com várias referências (muitas que eu não peguei, perdão pelo vacilo) e com uma crítica social enorme. Na verdade eu não sei se o objetivo aqui foi criticar a sociedade atual ou o rumo que ela está tomando, mas que eu senti um julgamento, eu senti. Lembra que eu falei logo no início dessa resenha que o livro te dá vários tapas na cara? Pois é, era a isso que eu estava me referindo. Um mundo que a gente pensa estar muito distante, porém que é possível acontecer algum dia, e aos poucos você nota que o mundo já está ficando assim, deturpado, e na minha opinião isso tudo se transcreveu muito bem nas páginas.

 “A cultura moldava a sociedade e as corporações moldavam a cultura.”
Outra coisa importante de ser dita aqui, caso vocês comprem o livro e não leiam as notas dos autores logo no começo, o livro é bem pesado. Tem muita violência e palavrões e pode ser bem chocante em algumas partes. Eu me senti realmente mal lendo certas passagens e senti um clima denso ao meu redor. Algo que só tinha acontecido comigo uma única vez antes, que foi quando maratonei Breaking Bad. Acho que o motivo por ter tido essa reação pode ter sido a proximidade com a realidade, que pode ser assustadora. Então gente, eu super recomendo esse livro. Eu terminei de ler ele e a primeira coisa que eu disse foi a frase que começou essa resenha (a minha frase, não a citação). Se eu pudesse, ia de casa em casa, batendo nas portas e perguntando se vocês teriam um tempinho para ouvir falar de nosso grande escritor Leonel Caldela. Mas é bom que estejam preparados para a violência, dependendo da sua sensibilidade para essas coisas.

E para encerrar essa resenha chavosa, eu lhes apresento a citação que eu mais adorei no livro inteiro. (Lembrando que meu livro tem exatamente 23 post-its marcando citações e momentos marcantes pra mim).

“Uma ideia é frágil. As corporações vão pisotear uma ideia até que morra. Ou até que se torne uma ideia completamente diferente, mais adequada aos interesses do mercado. Uma ideia não morre com um tiro, mas morre com indiferença.”

Minha classificação para esse livro é de  6/6- "Obra-prima".
Veja a cotação do livro no SKOOB e a opinião de outros leitores.
Ozob - Protocolo Molotov. Caldela, Leonel. Nerdbooks, 2015, 420 p.


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